Fausto Borém (no alto, à esquerda) vai liderar grupo de pesquisa em convenção nos EUA

Texto retirado do site www.ufmg.br/boletim, escrito por Itamar Rigueira Jr, com foto de Isabella Lucas/UFMG

“Grupo de pesquisa da Escola de Música apresenta método brasileiro de ensino do instrumento elaborado na primeira metade do século 19

O segundo mais antigo método de ensino de contrabaixo no mundo, escrito em 1838 por um músico carioca de origem pobre e recém-descoberto no Rio de Janeiro, será o tema de mais uma participação do professor Fausto Borém, da Escola de Música da UFMG, na Convenção Mundial de Contrabaixistas, entre 3 e 8 de junho. O evento, bianual e considerado o maior do gênero do mundo, vai reunir mais de mil instrumentistas na Eastman School of Music da Universidade de Rochester, no estado de Nova York (EUA).

Borém e outros oito pesquisadores do Projeto “Pérolas” e “Pepinos” da Performance Musical farão recital-palestra sobre o Methodo de Lino José Nunes, garimpado entre preciosidades da Biblioteca Alberto Nepomuceno, vinculada à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Há cerca de dois anos, Fausto Borém e o professor André Cardoso (UFRJ) publicaram artigo sobre o achado nos anais do principal congresso de pós-graduação em música no Brasil, com abordagem histórica e musicológica. As partituras estão sendo restauradas e estarão disponíveis ao público em breve, possivelmente na revista Per Musi, que terá um número especial sobre música antiga. Editado por Borém, é o único periódico de música no Brasil com classificação Qualis A1 da Capes.

“Contrabaixista, cantor, professor e compositor, Lino usa em seu método harmonias sofisticadas para a época, passando por tons distantes, com paralelo em obras como O cravo bem temperado, de Bach, e o Réquiem, de Mozart”, destaca Fausto Borém, que é pós-doutor em contrabaixo pela UFMG e tem títulos de mestre e doutor pelas universidades de Iowa e Georgia, nos Estados Unidos.
Linguagem vocal no contrabaixo

Segundo o pesquisador, parte do método é composta por lições que são músicas próprias para recitais. “Lino traz o mundo da ópera italiana, das marchas militares (foi D. João VI quem trouxe as bandas de retreta para o Brasil), das modinhas, das síncopes, com criatividade incomum para compositores brasileiros da época. Há mesmo uma referência à sincopa brasileira do lundu afro-brasileiro”. Borém observa ainda que o autor, que era cantor, utiliza a linguagem vocal, inovando na tradição do contrabaixo, que era mais utilizado como instrumento de acompanhamento na música sinfônica feita na primeira fase do período imperial brasileiro.

Lino José Nunes foi um dos alunos que mais se destacaram na escola de música gratuita do padre José Maurício Nunes ­Garcia, um dos indícios de sua origem humilde. Em 1825, foi empregado pela Capela Real, um dos símbolos da atividade cultural da corte de D. João VI, onde trabalhou até sua morte, em 1847 – não se sabe a sua data de nascimento.

Lino não chegou a concluir o manuscrito, e uma das razões seria o fato de o dedicatário, que aprendia contrabaixo com Lino, ter interrompido seus estudos musicais para seguir carreira como médico. Além disso, com a volta de D. João VI a Portugal, houve desestímulo para os músicos profissionais no Rio de Janeiro.
Netuno 2013

O grupo “Pérolas” e “Pepinos” da Performance Musical não viaja apenas com a missão de apresentar pela primeira vez no exterior o manuscrito de 1838. O grupo leva na bagagem, para a Convenção Mundial de Contrabaixistas, um contrabaixo recém-construído que vai disputar o Concurso Internacional de Luteria.

Produto da arte do luthier Gianfranco Fiorini e de colaboração com o grupo da Escola de Música, o Contrabaixo Netuno, baseado em motivos marinhos, apresenta inovações como alterações estruturais que facilitam seu manuseio, mudanças na escala para incluir mais notas musicais na região aguda e mecanismos como a extensão mecânica da região grave e o braço desmontável para facilitar o transporte. Gianfranco Fiorini, que foi artista-visitante da UFMG – e premiado no mesmo concurso, em 2006 – faz as adaptações em seus projetos de contrabaixo com base na experimentação de músicos como Fausto Borém.

O professor da UFMG vai aos Estados Unidos acompanhado do aluno de mestrado Giordano Cícero, dos graduandos Alfredo Ribeiro, Evaristo Bergamini, João Paulo Campos, Gustavo Neves e Rodrigo Olivarez (este chileno, em mobilidade internacional), e do ex-aluno Leonardo Lopes.”

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