No naipe de cordas de uma orquestra (violino, viola, violoncelo e contrabaixo) é costume se usar uma estante de música para cada dois instrumentistas.
Essa divisão é não só física, mas também funcional. No caso do contrabaixo, por exemplo, o contrabaixista da esquerda costuma marcar as arcadas, e o da direita costuma virar as partes (folhas da partitura) e isso é o inverso do que acontece no naipe dos violinos.
A divisão da estante entre os dois contrabaixistas costuma ser uma coisa incômoda, principalmente se ela for mal dividida, e pode demorar um tempo (ou nunca) até que os músicos se acostumem um com o outro.
Essa situação é quase um casamento, pois todos nós temos manias: tem colega que puxa a estante toda para si; tem colega que deixa para mexer na estante (para pior, é claro) na hora que o ensaio ou concerto vai começar e você não pode fazer nada; tem colega que se esquece de virar a página ou vira tão em cima da hora que quem está tocando perde algumas notas; tem colega que não marca as arcadas; tem colega que a-do-ra rabiscar as partes com dedilhados, setinhas e cobrinhas com lápis, e outros que infelizmente também gostam disso, mas com canetinhas coloridas, dentre muitas outras manias, que nem sempre são gostar de você…
Sou favorável à estante individual para os contrabaixistas, porque o tamanho do instrumento acarreta naturalmente uma distância maior entre os instrumentistas e a estante, o que não acontece com nenhum outro instrumento da orquestra: os violinos são pequenos e a distância entre os dois violinistas e a estante também é pequena, por exemplo. Os instrumentistas de sopro e os de percussão leem em estantes individuais, e tanto faz se for um flautim ou uma tuba.
Por isso, penso que mais uma vez nós contrabaixistas somos prejudicados, assim como somos os instrumentistas mais prejudicados da orquestra com essa divisão de uma estante para cada dois contrabaixistas.
Isso como se já não bastasse carregarmos um instrumento pesado e termos que tocar mais forte para sermos ouvidos, ainda mais se estivermos sentados perto de uma tuba assassina (basta uma para cobrir um naipe de oito contrabaixos), ou algo equivalente, como uma fileira de quatro trompas psicopatas ou de três trompetes criminosos.
Até hoje só vi uma orquestra em que cada contrabaixista lia em uma estante exclusiva. Pena que essa ideia ainda não tenha dado filhote brasileiro…
Quanto à divisão de funções na estante, se você não quiser marcar as arcadas ou virar as páginas (contrabaixista assim existe!), talvez seja bom você se lembrar que tocar numa orquestra é um trabalho em equipe, e que lugar de faniquitos e chilicotes de solista é no camarim.
Agora, se você é a vítima do seu colega contrabaixista de estante folgado, pense que você é um contrabaixista e não um burro de carga, mesmo que para alguns leigos isso pareça a mesma coisa.
Uma conversinha sobre o assunto com o chefe de naipe costuma funcionar já que, como tal, ele deve definir funções tão bem quanto tocar, embora às vezes ele saiba definir melhor…
Felizmente, nessa hora (e infelizmente na hora da politicagem orquestral), isso não fará a menor diferença para você e para muita gente…

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