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A-B-C-Dicas de Contrabaixo – Sobre a posição do contrabaixo :

A-B-C-Dicas de Contrabaixo – Sobre tamanhos de contrabaixo:

A-B-C-Dicas de Contrabaixo – Detalhes sobre a condução do arco e a emissão do som:

A-B-C-Dicas de Contrabaixo – Pequenos problemas na condução do arco:

A-B-C-Dicas de Contrabaixo – Sobre como apertar a crina do arco:


Mensagem enviada pela contrabaixista Camila Hebling para o Blog da Voila Marques.

I Festival Pedagógico de Música da Orquestra Sinfônica de Rio Claro

Data: 02 a 07 de Fevereiro de 2013
Inscrições: até o dia 01/02/2013, às 18h.

Cursos:
•Violino
•Viola Clássica
•Violoncelo
Contrabaixo
•Música de câmara
•Prática de Orquestra para iniciantes
•Prática de Orquestra
•Musicalização infantil para crianças de 4 a 8 anos

Professores:
Pratica de Orquestra: Felipe Faglioni
Prática de Orquestra para iniciantes: Brenda Knetsch Marin
Violino: Eduardo Semencio
Viola: Gabriel Marin
Violoncelo: Francisco Paes
Contrabaixo: Fernando Freitas
Música de Câmara: Brenda Knetsch Marin
Musicalização Infantil: Brenda Knetsch Marin

Apresentações:
02 de Fevereiro – 20h – Abertura – Quinteto de Professores
04 de Fevereiro – 20h – Palestra – Profissão de Músico e como estudar.
05 de Fevereiro – 20h – Recital de Professores
06 de Fevereiro – 20h – Apresentação de alunos – Solo e Música de Câmara
07 de Fevereiro – 20h – Encerramento – Orquestra de Alunos

Inscrições: R$ 10,00
Inscrições gratuitas para alunos da Orquestra Sinfônica de Rio Claro.
Inscrições somente por e-mail: contato@sinfonicarioclaro.com.br
Enviar – Nome Completo, Telefone, E-mail, Professor Atual, Tempo de Estudo.
Todos os inscritos em instrumento farão parte da prática de orquestra.

Para saber mais, clique aqui:


A-B-C-Dicas de Contrabaixo – Ligadura em cordas soltas:

A-B-C-Dicas de Contrabaixo – Mudança de corda numa mesma posição, com arco:

A-B-C-Dicas de Contrabaixo – Golpes de arco básicos e articulações básicas:

A-B-C-Dicas de Contrabaixo – Divisão básica do arco usando o arco inteiro e parte dele:

A-B-C-Dicas de Contrabaixo – Divisão básica nas três regiões do arco:

A-B-C-Dicas de Contrabaixo – Notas ligadas e articuladas numa mesma posição:

A-B-C-Dicas de Contrabaixo – Aquecimento da mão esquerda:

A-B-C-Dicas de Contrabaixo – Sobre resina:

A-B-C-Dicas de Contrabaixo – Como guardar o contrabaixo e o arco:

A-B-C-Dicas de Contrabaixo – Como carregar o contrabaixo:

Caros colegas,

Estamos começando aqui no nosso blog o PROJETO FALA BAIXO, com entrevistas contrabaixísticas em vídeo.

Nossa primeira entrevista para o Fala Baixo foi feita com o contrabaixista holandês Hans Roelofsen há 01 ano, porém, ainda está em fase de edição…

Nosso convidado de honra para a segunda entrevista foi o contrabaixista Ricardo Vasconcellos, professor de contrabaixo da Escola de Música de Brasília.

Nesta entrevista – feita em janeiro de 2012 -, Ricardo Vasconcellos nos fala sobre o seu trabalho como professor há 22 anos, sobre seu trabalho como chefe de naipe da Orquestra do Teatro Nacional de Brasília por muitos anos, sobre como se tornou contrabaixista, sobre a sua técnica, sobre a sua rotina de estudos, saúde, descobertas, aposentadoria, sobre os 13 anos do Duo Assunto Grave, com a pianista e arranjadora Francisca Aquino, sobre seus 40 anos de profissão e seus trabalhos como contrabaixista e arranjador, tanto na música popular, quanto na música erudita.

Ricardo também fala sobre sua família mais que musical, já que ele é pai do baixista André Vasconcellos, do guitarrista Marcos Vasconcellos e do cavaquinista Pedro Vasconcellos.

Ao final da entrevista, tem uma canja do Duo Assunto Grave!

Enfim, uma entrevista para fazer a gente gostar de estudar contrabaixo!…

Bravíssimo, Ricardo! Nossos agradecimentos a você e à Francisca!…

 

Licença Creative Commons
Projeto Fala Baixo by Voila Marques is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Não a obras derivadas License.

A-B-C-Dicas de Contrabaixo – Sobre as primeiras notas, com dedilhado 1-2-4, sem arco:

A-B-C-Dicas de Contrabaixo – Sobre como juntar a mão esquerda com o arco:

A-B-C-Dicas de Contrabaixo – Mudança de corda na mesma posição:

A-B-C-Dicas de Contrabaixo – Movimento inicial do rrco na corda:

A-B-C-Dicas de Contrabaixo – Divisão inicial do arco na corda solta:

A-B-C-Dicas de Contrabaixo – Mudança do arco na corda solta:

Este é o mais novo projeto contrabaixístico do Blog da Voila Marques, com dicas variadas sobre a técnica do contrabaixo, que foram escolhidas a partir da minha vivência como contrabaixista e professora de contrabaixo.

As dicas estão sendo filmadas aleatoriamente, em vídeos curtos de, no máximo, 6 minutos – num trabalho conjunto com meu marido, Aurélio Ramalho.

Esperamos que vocês gostem do nosso A-B-C-Dicas de Contrabaixo, assim como esperamos que o resultado dele seja útil para vocês!

Participem e interajam enviando sugestões de futuras dicas, ok?

Abraços contrabaixísticos procês

A-B-C-Dicas de Contrabaixo – Como segurar o arco (modelo francês):

A-B-C-Dicas de Contrabaixo – Como colocar o arco na corda:

A-B-C-Dicas de Contrabaixo – Como manter a forma da mão direita com o arco:

A-B-C-Dicas de Contrabaixo – Noções de dedilhados e como colocar a mão esquerda na corda:

A-B-C-Dicas de Contrabaixo – Como se acostumar com o peso do contrabaixo:

A-B-C-Dicas de Contrabaixo – Alongamentos:

A-B-C-Dicas de Contrabaixo – Sobre a altura do contrabaixo:

A-B-C-Dicas de Contrabaixo – Sobre o uso do peso do corpo na mão esquerda:

A-B-C-Dicas de Contrabaixo – Sobre postura com banco:

A B C Dicas de Contrabaixo – Exercícios iniciais de fortalecimento dos dedos da mão esquerda:

Fonte da notícia: www.movimento.com

Ricardo Bessa– contrabaixo
Edvan Moraes Jr – piano
Isabel Vieira – soprano

Programa: Tributo a Giovanni Bottesini (1821-1889), virtuose italiano considerado o “Paganini do Contrabaixo”.

Data: 09/11/2012 – 6ª feira
Horário: 15h
Local: Centro Cultral da Justiça Federal
Endereço: Av. Rio Branco, 241 – Centro
Rio de Janeiro – RJ
Entrada franca

Texto publicado na Revista FCBR

A comunicação oficial do inspetor da orquestra jovem acabou por tirar o meu sono tão logo entrei para a orquestra:
– Dia 20 tem ensaio de naipe dos contrabaixos para a Nona Sinfonia, de Beethoven.
– É assim que vocês matam os que acabam de entrar para a orquestra? Não é a toa que ainda há vagas sobrando…
– A orquestra não mata; os contrabaixos é que adoram se suicidar. Por isso, optamos pelo ensaio de naipe.
– É obrigatório?
– Obrigatório e eliminatório. A rima só conhece quem falta.

Faculdade, ensaio três vezes por semana da Quinta, de Beethoven, e quinze dias para me preparar para o tal do ensaio da Nona… E a bolsa de estudo oferecida pela orquestra, que fica impassível a essa matemática de somar sinfonias…

Meus dias voam, o sono faz modulações no meio da noite, e a insônia insiste em pensar que toda noite de preocupação é noite de balada.

Os ensaios da Quinta na orquestra me deram uma noção do que seria a Nona…

Meu naipe era um tanto quanto difuso e estranho.

Zenilda era a chefe de naipe.
Antipática e pedante, achava que todos os contrabaixistas do mundo lhe deviam alguma espécie de homenagem, mas nem para outro tipo de homenagem ela servia, coitada: feia de doer, daquelas que um travesseiro era pouco para cobrir a cara na hora do vamos ver, e com um corpo que era a tábua mais desbundada que eu já vi. Daria para fazer um contrabaixo, e só.
“Passar horas sentada naqueles banquinhos de madeira devem deixar o traseiro dela anestesiado… Meu Deus, como alguém pode querer tocar contrabaixo na orquestra e esquecer a bunda em casa? Deve ser por isso que ela é assim tão enjoada: carência de bunda!” – pensava eu, enquanto tentava elucidar o mistério que fez a Zenilda ser contrabaixista e o mistério mais misterioso que fazia a Zenilda conseguir ficar sentada naquele banco horrível, tão desbundada que era…

Mas ela se achava a contrabaixista mais contrabaixista do planeta.
“Pelo menos, ela não sofre com a realidade.” – diziam alguns colegas de outros naipes, que não eram obrigados a lidar com o ego da Zenildinha. E que ego!

Desafinada por milímetros, mas suficientemente desafinada para ser percebida como tal, Zenilda entrou para a orquestra jovem sem concurso, por indicação de um velho contrabaixista muito afeito às tábuas da Zenilda, talvez porque ele não pudesse ser tão exigente e eficiente como outrora, ineficiência essa famosa, que as más-línguas diziam se estender dos olhos até as partes bifurcantes.

Zenilda tinha também o dom especial de conseguir tocar uma sinfonia inteira sem perceber que estava dois compassos atrasada ou adiantada.

E a Zenilda das cocadas saia distribuindo patadas nos ensaios: “afina!”, “seu ritmo tá errado!”, enquanto tocava mais forte e tentava impor o seu jeito peculiar de tocar errado achando que estava mais do que certa.

Do lado dela se sentava Zeferino, o concertino, que tinha sido escolhido como tal não por merecimento ou concurso, mas por falta de opção mesmo.

Zeferino era zen. Zen noção e zen condições, e ainda por cima natureba, passava o dia a fumar umas canabis ecológicas, e ia para os ensaios completamente chapado, rindo à toa e mandando beijinhos até para as notas fora da Zenilda, que passavam voando pelo seu nariz.

Diziam na orquestra que o auge da performance do Zeferino aconteceu no dia em que a Zenilda teve uma caganeira de emergência e precisou ser substituída idem num concerto didático importante em que, além das criancinhas de escola, apareceram também o governador do estado e seu séquito de puxa-sacos, logicamente para promover o projeto de inclusão musical firmado entre o governo e a orquestra.
Durante apresentações didáticas é praxe o chefe de naipe mostrar o seu instrumento para o público e tocar alguma coisinha para que o público fique quieto pelo menos nessa parte do concerto, já que depois…

Bem, o Zeferino foi pego de surpresa, pois tava acostumado a ouvir a Zenilda se exibir nessas horas.
Mas a Zenilda tava no vaso. E agora, Zeferino?
Com os olhos vermelhos, mais maconhados do que nunca, ele sorriu para a plateia aquele sorriso bem apatetado e tocou quatro notas longas: sol – ré – lá – mi.
Sim, as cordas soltas do contrabaixo, sem uma notinha presa ou um atirei o pau no gato sequer, porque a mão esquerda dele devia estar num bode daqueles.
A plateia não aplaudiu e ainda ficou esperando o solo, que não apareceu e nem iria aparecer, enquanto o maestro anunciava outro instrumento o mais rápido possível, para evitar burburinhos.
Mesmo assim, depois do episódio ele continuou no cargo de concertino e a orquestra passou a ter uma caixa de primeiros socorros, com direito a muito Floratil, que era guardado sugestivamente junto com remédios para dor de cabeça e uma…rolha de cortiça.

A falta de uma opção que tocasse contrabaixo a contento era grande e o terceiro contrabaixista era o Danúbio, que não era o azul, mas que valsava entre duas faculdades e a orquestra, sem tempo para estudar nem para uma coisa, e menos ainda para duas ou três. Para piorar o quadro, morava lá na rua que partiu…

O Danúbio foi o primeiro contrabaixista concursado da orquestra e passou porque, como a bolsa de estudo era no valor de uma pochete, foi também o único contrabaixista inscrito.
O maestro era o único membro da banca julgadora. “Um é número ímpar” – alegava ele para se justificar, e acabou passando o Danúbio.

Dizem que o maestro era regente de coralzinho qualquer, e que nunca tinha regido uma orquestra.
Ele foi chamado para ganhar dinheiro no projeto da orquestra e não pensou duas vezes em aceitar o convite, assim como não pensou em nada ao aprovar o Danúbio, mesmo porque ele nunca tinha ouvido nada mais feio e cavernoso na vida, mas não podia demonstrar isso reprovando o único candidato de contrabaixo.
Parece que essa foi a primeira vez que ele ouviu um contrabaixo com arco na vida. E, dizem as línguas ferinas, que isso foi um estupro auditivo inesquecível tanto que, nos concursos seguintes, ele delegou a função de banca de contrabaixo ao próprio Danúbio e depois ao próprio naipe.

No primeiro ensaio da orquestra, o Danúbio começou a tocar tudo com os dedos, em pizzicato, para espanto total dos violinistas e violoncelistas de plantão até que, envergonhado, confessou que aquela era a primeira vez que ele tocava com arco na vida.
“Mas, e no concurso?” – perguntaram todos.
Para deleite da galera pasma, ele deu a entender – um tanto quanto constrangido -, que o estupro não fora bem auditivo, mas que ele era jovem, porém maior de idade, e ainda terminou dizendo que cada um cuidasse do seu próprio arco, pois remeter o arco ou retomar o arco era um problema de cada um, e que ele preferia retomar o arco, e pronto.

E o quarto contrabaixista sou eu, Duda, que passei para a orquestra mediante concurso, cuja banca julgadora eram Zenilda, Zeferino e Danúbio. Os três não entravam num acordo. A Zenilda não queria dividir o trono de única contrabaixista da orquestra com mais ninguém, mas o Zeferino e o Danúbio a convenceram de que, com mais gente no naipe, todos poderiam tocar mais suave. Aí, a lei do menor esforço venceu, e passei para a orquestra com todos os meus pum-pum-puns e ronc-roncs.

E chega o dia do ensaio de naipe…
Zenilda aboleta a sua tábua no banquinho e olha para todos com ares de quem caga cheiroso. Zeferino senta-se rindo de tudo e todos, parecendo ouvir piadas do espírito de Dragonetti e contar piadas para o falecido Bottesini. Danúbio, com o contrabaixo na mão, ainda em crise sobre como tocar com o arco, mas pelo menos bem resolvido com os arcos da vida. E eu com meus pum-pum-puns e ronc-roncs assumidos, quase familiarizada com o naipe capenga, se não fosse o maldito nervosismo…

Começamos o ensaio.
Zenilda dá de tocar forte a sua desafinação e a implicar com qualquer nota afinada que ousasse sobressaí-la.
– Zeferino, afina essa nota!
– Danúbio, segura o arco direito!
– Duda, esse seu som tá horrível!
E o clima começa a esquentar:
– Não concordo com esse dedilhado!
– Eu acho legal!
– Você se acha a tal, né? Com essa afinação mais troncha que essa sua…!
– Você que vá tomar … conta do seu arco!
– Ô tábua de tocar contrabaixo, só porque aquele contrabaixista caquético e vesgo enxerga duas de você, não quer dizer que você toque por duas pessoas!
Entre desaforos e berros, de repente a Zenilda sai correndo pro banheiro, e fica por lá.
Eu saio correndo para o outro banheiro e também fico por lá.
– Cadê a caixa de primeiros socorros, gente?
– Só tem caixa quando é ensaio da orquestra. Ensaio de naipe tem não…
– É sempre assim: quanto mais gente tocando, mais m$%& soando…
– Pois é, o naipe de contrabaixo é o pum que anuncia…
– Então vamos para casa, porque hoje já cumprimos a nossa função de peido da orquestra!…

E assim, o ensaio acaba…

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Segredos Contrabaixísticos de Duda Pum-Pum-Pum Ronc-Ronc by Voila Marques is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Não a obras derivadas License.

Imagem retirada do blog mairabacampos.blogspot.com

Texto postado na Revista FCBR

Gumercindo era o contrabaixista mais tímido que alguém já vira ou ouvira na vida…

E meu contrabaixo começou a falar, após minhas inúteis tentativas de tocar uma música de um jeito mais expressivo…
– Eu aqui irritada e você vem me falar em Gumercindo? E quem é o Gumercindo?
– Era um dos poucos amigos de infância do Tibúrcio.
– E quero lá eu saber sobre o Gumercindo?

Sem me dar ouvidos, o contrabaixo continuou a sua história:
– Quando criança, ele fazia xixi nas calças, mas não pedia de jeito nenhum para a “tia” deixá-lo ir ao banheiro. Por causa disso, voltava para casa sempre molhado. No início, a mãe até conversava com ele sobre isso, mas depois de três calças ensopadas e cheirando a cachorro, passou a ralhar com ele. Como mesmo assim a tempestade não cessava, ela mudou de tática e passou a dar-lhe uns bons tabefes. Mas o xixi não tinha medo de tabefes e nem de bordoadas, e ela acabou por desistir de consertá-lo de vez, não sem antes apresentá-lo ao tanque e ao sabão, para que lavasse suas próprias calças.
– E o que tenho a ver com isso?
– Com o tempo, a chuva dele passou, mas a timidez nunca…
– E…
– E aí, menina Duda, ao invés de reclamar, ouça o que tenho para te contar, e depois tire as suas conclusões! Para tocar é preciso saber ouvir!…

Fiquei muda com a petulância do meu caquético contrabaixo mas, em respeito à sua avançada idade, passei a ouvir – muito a contragosto – aquela história, certa de que poderia ser contada num momento menos incômodo…
– Foi tanto lava e seca de roupa que, ao virar rapazote, quase foi trabalhar numa lavanderia – experiência da infância molhada não lhe faltava – mas um dia veio o circo…
– Que circo?
– Um circo mágico, com palhaços, trapezistas, equilibristas… e uma banda… e uma bailarina…
– Tinha contrabaixo?
– A banda ficava num canto quase escondido do picadeiro: violino, acordeom, percussão e contrabaixo acústico.

Fiquei a imaginar o tal circo, enquanto meu contrabaixo dava asas à minha imaginação:
– Todos, eufóricos, esperavam pelo início do espetáculo. Só Gumercindo prestava atenção naquele instrumento grande e gordo na penumbra do picadeiro. A música começou, misteriosa e enérgica, a dar o clima de suspense necessário ao espetáculo.

E o som do contrabaixo se apossou dos olhos e dos ouvidos do tímido Gumercindo, que nunca tinha ouvido alguém tocar um instrumento de verdade na vida. Até então, ao vivo, ele só conhecia mesmo os tambores de lata de leite e os chocalhos de feijão que a Maria dos Quindins, empregada da casa, improvisava para acalmar a peraltice dos pequenos, junto com os quindins do seu apelido.

O violinista cigano – de olhos bem negros e roupas típicas – tocava seus arabescos e trinados, e envolvia a plateia em agudos e melodias românticas, mas Gumercindo nada percebia, porque estava totalmente hipnotizado pelo contrabaixo…
Bem pelas pupilas do público passavam mágicos, palhaços e trapezistas, mas todos ficavam a milhas de distância do contrabaixo e dos sonhos de Gumercindo.

De repente, o contrabaixista passou a tocar com uma varetinha igual à do violinista, e uma melodia fosca e linda, grave e intensa saiu do contrabaixo, seguido pelo timbre melancólico do acordeom… Um tango talvez, quase tango…
A luz foi então diminuindo, diminuindo e, de um círculo de luz com contornos azuis e violeta, um cavalo adentrou o picadeiro com a mais bela moça que Gumercindo já vira.
Era a bailarina!…

E os arabescos da bailarina, ah, esses o Gumercindo viu!
E o cavalo lá, impassível, enquanto a bailarina ondulava, levantava e pulava sobre suas costas, para delírio da plateia, que mal respirava a cada salto, e do Gumercindo que, com os olhos marejados, enxergava um arco-íris de luzes e lágrimas a cada movimento da sua bela bailarina, até que ela ficou de cabeça para baixo, e seus olhos se cruzaram com os de Gumercindo, que fechou os seus e, quando acordou, estava em casa, com todos aguardando ansiosos que ele recuperasse os sentidos, enquanto o médico dava-lhe sais…

– O Tibúrcio também estava no espetáculo?
– Sim, e foi ele quem primeiro acudiu o Gumercindo, depois que ele desfaleceu com o olhar verde-intenso-fatal da Zíngara…
E continuou:
– O circo ficaria na cidade por mais três espetáculos. Gumercindo nunca teve coragem para falar com Zíngara, mas fora a todos os espetáculos, e sentara-se sempre no mesmo lugar, à espera do olhar de Zíngara, que sempre vinha ao encontro do seu, para dançar o tango quase tango, retina a retina…

No último espetáculo, resolveu que iria brigar com a sua timidez, e enfim falar com Zíngara após a apresentação. Quem sabe ele não a raptava ou quem sabe ele mesmo não fugia com o circo? – pensava ele, enquanto se refugiava no seu conto de fadas às avessas, em que a mocinha ficava na cidade ou o mocinho fugia com o circo.

E a melodia fosca e linda, grave e intensa do contrabaixo, acompanhada pelo timbre melancólico do acordeom recomeçou a enfeitiçar o ambiente… Tango que te quero tango, quase tango…
E mais uma vez, a luz foi diminuindo, diminuindo, e o círculo de luz com contornos azuis e violeta trouxe o cavalo com a só sua bailarina, que fluía, melíflua, pura lua…
E Gumercindo, inebriado em arco-íris e sonhos, esperou pelos olhos da sua bailarina pela última vez… Fogos de artifício estouraram de repente. Muitos fogos.
O cavalo dá um pinote inesperado, corre assustado, e derruba a bailarina, que de cabeça para baixo cai, e nunca mais se levanta… Silêncio, tumulto e gritos na plateia.

Gumercindo, aos prantos, só conseguia balbuciar uma coisa repetidamente quando conseguiu, no meio do tumulto, chegar ao picadeiro: “Me venda este contrabaixo… por favor… me venda… o contrabaixo…”.
– Nossa!… E ele virou contrabaixista?
– Sim, em homenagem à bela Zíngara, razão dos seus olhos e desatino do seu coração, ele se tornou contrabaixista, bem antes do Tibúrcio, até que sua morte precoce o separou do contrabaixo e o uniu em estrelas à sua Zíngara…

– E o contrabaixo dele?
– Sou eu, que fui parar na coleção de contrabaixos do Seu Sinhozinho para, só muito tempo depois, ser trocado por um fusca pelo Tibúrcio.

– Mas por que você me contou esta história?
– Porque temos que perder um pouco da timidez para conseguir algumas coisas na vida, seja para fazer uma homenagem, ou mesmo para tocar uma melodia…
– Não entendi…
– Você não consegue tocar aquela melodia, menina Duda, porque está tímida com os seus próprios erros… Para tocar, é preciso saber ouvir o coração…Decida como você quer tocar, e lute pela melodia que há em você!… Como o Gumercindo lutou…

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anavaleriapolesdanaradu

Recital de Ana Valéria Poles – primeira contrabaixista da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP)- e Dana Radu – pianista da Fundação Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo.
Este ano, o Centro de Música Brasileira (CMB) homenageia Osvaldo Lacerda (1927-2011) que estaria fazendo 85 anos em março.
Em comemoração, as renomadas musicistas interpretarão algumas de suas obras, inclusive a Pequena Suíte – que o compositor dedicou especialmente à Ana Valéria Poles -, e também peças de Gnatalli, Cameron, Villani-Côrtes, Catunda e Villa-Lobos.

Data: 24/11/2012 – sábado
Horário:18h30min
Recital promovido pelo Centro de Música Brasileira (CMB)
Local: Auditório da Cultura Inglesa de Vila Mariana
Endereço: Rua Madre Cabrini, 413
São Paulo – SP
Capacidade: 50 lugares
Ingressos: R$ 20,00 e meia-entrada para estudantes e maiores de 65 anos
Sócios: entrada franca

Programa:

Radamés Gnatalli – Canção e Dança para contrabaixo e piano
Pedro Cameron – Reinvenção para contrabaixo solo – 1979 (dedicada à Ana Valéria Poles)
Edmundo Villani-Côrtes – Fonte Eterna para contrabaixo e piano
Eunice Catunda –

  • La Dame e la Licorne – petite suite (1982)
  • “La Dame e sasuivante”
  • “Les Lièvres”
  • “La Licorne”
  • “Les Étendards Lunaires”
  • “Les Joyaux e les Fruits”
  • “Le Lion”

Heitor Villa-Lobos – Canto do Cisne Negro (transcrição para contrabaixo e piano de Ana Valéria Poles)
Osvaldo Lacerda –

  • Choro Seresteiro
  • Chacona
  • Pequena Suíte ( I – Desafio – II – Canção – III – Afro) – (dedicada à Ana Valéria Poles)
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