Esta entrevista foi realizada no Linhas de Baixo na comunidade do Orkut, “Mulheres no contrabaixo”, em abril de 2009, e suas perguntas foram elaboradas por membros da comunidade.
Na época com 71 anos, o grande contrabaixista Sandrino Santoro pode ser comparado a um maravilhoso vinho contrabaixístico ítalo-brasileiro: não envelhece, encorpa e exala saber e o sabor da sua paixão pelo contrabaixo.
Um brinde a Sandrino Santoro, com Sandrino Santoro!
“Colegas dos graves bem formados e bem-informados,
Este é o tópico do “Linhas de Baixo” (entrevistas) da ‘Mulheres no contrabaixo’, que contará com a participação do grande contrabaixista SANDRINO SANTORO.
Sandrino Santoro: Mini-release
Foi professor de contrabaixo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade do Rio de Janeiro (UniRio) e da Escola Villa-Lobos (EMVL), entre outras instituições.
Foi primeiro contrabaixista das orquestras: Sinfônica do Theatro Municipal do RJ, Sinfônica Nacional da UFF, e de Câmera da Rádio MEC.
Atuou como solista da Orquestra Sinfônica Brasileira, da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional de Brasília e da Orquestra de Câmera da Rádio MEC (1966), e realizou vários recitais de contrabaixo.
Participou de diversas gravações de artistas da música popular.
Ministrou aulas de contrabaixo nos Festivais Internacionais de Brasília e no Festival de Vassouras, entre outros.
Em 2008, os 70 anos de Sandrino Santoro foram comemorados com uma apresentação bastante divulgada na mídia, onde uma boa parte de seus inumeráveis discípulos tocaram, homenageando o grande mestre do contrabaixo no Brasil.
Em 2009, foi realizado o “I Concurso Nacional para Contrabaixo Sandrino Santoro”, mais um marco contrabaixístico na vida deste mestre dos mestres, e de todos os contrabaixistas.
Voila Marques
Nossas boas-vindas…
Bem-vindíssimo, Sandrino!
A comunidade ‘Mulheres no contrabaixo’ sente-se muito honrada com a sua ilustre presença contrabaixística por aqui, e agradece desde já por você ter aceitado o convite para inaugurar o “Linhas de Baixo” (entrevistas contrabaixísticas)!
Abraços contrabaixísticos
Sandrino Santoro
Olá, pessoal!
Espero poder ajudar nesta díficil, mas emocionante, arte que é tocar o contrabaixo.
Grande abraço a todos
Jonas da Silva Junior
Olá, Grande Sandrino!
Gostaria, com toda a tua experiência, que tu falasses da situação do contrabaixista no Brasil, e da tua opinião de como está o trabalho em geral nas orquestras brasileiras, as condições de trabalho, o nível artístico, o campo de trabalho na música popular e na área de educação…
Valeu, grande Sandrino!
Sandrino Santoro
Olá, Jonas!
Obrigado pelo “Grande” mas, sinceramente, me sinto muito pequeno em relação aos “Grandes”
Penso que há muito tempo o contrabaixo no Brasil está em evolução, devido às exigências para se entrar em uma orquestra.
Quanto ao trabalho nas orquestras, vai depender sempre de um bom maestro, que além das qualidades artísticas, precisa ser educado quando se dirigir aos seus músicos. As condições de trabalho de um modo em geral são boas.
Atualmente há muita procura pelo contrabaixo acústico, tanto no popular quanto no clássico, porém sabemos que só talento não basta, é preciso se dedicar sem ter pressa. É um treino diário, como fazem os atletas.
Acrescento alguns métodos para você se orientar, porém, cada aluno é diferente. O professor precisa variar de métodos.
Eu sempre agi dessa forma e aqui vão alguns deles:
François Rabbart: Nouvelle Technique de la Contrabasse, 1°, 2° e 3° volumes.
Outros como Eduard Nanny, Billé, Simandl, J. M. Rollez, 2° e 3° volumes, Slama, Bottesini, Murray Grodner, Klaus Trumpf, Eugine Levinson (método de escalas muito bom) e Ferraris (método para cordas duplas).
Espero ter ajudado um pouquinho.
Abraços

Wagner Gadelha
Olá, Sandrino!
Sou músico da Orquestra de Cordas da grota, do Márcio e da Lenora Salles.
Atualmente estudo Regência na Escola Villa-Lobos, e aproveitei a oportunidade para estudar com a Voila.
Gostaria de saber a sua opinião sobre o Método do Suzuki para contrabaixo, se é bom alternar com outros métodos, ou se há algum método que supra melhor as necessidades para a formação de um bom contrabaixista?
Muito Obrigado!
Sandrino Santoro
Olá, Wagner!Tudo bem contigo?
Conheço muito bem o trabalho que o Marcio faz com a Orquestra da Grota. Parabéns a todos!
Creio que o Método Suzuki é muito bom. Eu o uso no projeto Volta Redonda, Cidade da Música. Naturalmente que depois de algum tempo você pode variar com outros métodos, dependendo do aluno e dos objetivos dele.
O estudo de hoje é diferente daquele quando eu começei. Hoje já começo ensinando na 4ª posição, aproveitando os harmônicos que são fáceis e que ajudam para o vibrato.
Estudar relaxado, não fazer força para tirar som, estudar escalas e seus intervalos, cantar as notas antes de tocá-las vai ajudar ao aprendizado. E, estudar um pouco de violoncelo antes do contrabaixo, também contribui.
Abraços a todos da Grota.
Jonas da Silva Junior
Eu dou aulas de contrabaixo num projeto em Florianópolis, a Orquestra Juvenil de Floripa.
Nosso maestro e a professora de violino fizeram aulas com o próprio Suzuki, indo duas vezes ao Japão.
Sei um pouco da filosofia, e tenho os metodos de contrabaixo, e ela se baseia na aprendizagem da fala, de tocar e os alunos repetirem, (isso bem resumido).
Gostaria que você falasse de seu trabalho como professor, que metodologia usa, que rotina de estudos passa aos alunos, e o que acredita ser mais importante em ser aprendido pelo estudante que inicia no estudo do contrabaixo.
Sandrino Santoro
Oi, Jonas!
Tudo evolui na vida.
Hoje em dia, existem contrabaixistas que tocam as Suítes de Bach para violoncelo solo, concertos de violino, obras escritas para qualquer instrumento.
Você ouve e se pergunta: será que é verdade?
Vai depender da ambição de cada aluno. Naturalmente que não é tão simples, não basta ter talento.
Um bom professor, um bom arco, um bom instrumento, um bom encordoamento, e porque não falar no fator sorte, ajudam bastante.
Abraços
Voila Marques
Oi, Sandrino!
Como era considerado o contrabaixo há algumas décadas? O que mudou?
Você sempre fez solos, recitais, foi professor de contrabaixo da UFRJ, da UniRio e de outras instituições, participou de grandes orquestras, etc e também foi responsável pela formação de uma enorme quantidade de bons alunos, que sempre movimentaram o meio contrabaixístico tocando em grandes orquestras do país, fazendo solos, recitais, dando aulas em universidades e escolas, etc…
Mesmo que sua modéstia não queira deixar você pensar assim, nós outros sabemos que existe uma realidade contrabaixística “AS” (antes do Sandrino) e uma “DS” (depois do Sandrino).
O que você tem a dizer sobre isso e como você se sente com tudo isso?
Obrigada e beijocas contrabaixísticas!

Sandrino
Santoro
Olá, Voila. Parabéns pelo seu trabalho em prol do contrabaixo.
De fato, antigamente nosso instrumento estava sempre em segundo plano. Eram poucos os baixistas que estudavam na região média e aguda.
Então, quando tinha alguma passagem mais complicada (exemplo: Bachiana 9 de Villa-obos), todos começavam a debochar.
Era mais ou menos assim: o músico que não tinha mais condições de tocar seu instrumento, por diversar razões, passava para o contrabaixo.
Estudava um pouco e, como não tinha muita concorrência, acabava entrando na orquestra.
Em 1961 fiz meu primeiro concurso para o Orquestra Sinfônica Nacional, que era da Rádio Mec. Toquei uma música com piano e foi uma surpresa. Outros colegas tocaram um estudo do 3° ano do Billé e também foram aprovados.
Em 1966 toquei como solista da Orquestra Sinfônica Brasileira na Sala Cecília Meireles o concerto de Dittersdorf em Mi maior e foi outra surpresa. Nesta data, eu estava no Theatro Municipal, que entrara em 1963.
A partir deste concerto, os colegas começaram a acreditar que o contrabaixo era um instrumento como outro qualquer.
Na realidade, queria mostrar o contrabaixo como um bom cantor.
O contrabaixo começou a tomar impulso quando me apresentei na TV Globo tocando um solo com a Orquestra de Câmara da Rádio Mec e também em duo com piano, além de vários programas da TVE.
Hoje, me sinto realizado e feliz com a minha proposta de querer mostrar o baixo em igualdade de condições com outros instrumentos, e isto pode ser notado nos dias de hoje.
Recentemente, nos dias 11, 2 e 13 de março de 2009 tivemos uma amostra disso tudo com a realização do I Concurso Nacional de Contrabaixo Sandrino Santoro, tanto na área popular quanto erudita, ganhando alunos de ex-alunos meus.
Muito obrigado de coração pela continuação deste trabalho ensinando contrabaixo.
Um grande abraço

Lucas Oliveira
Olá Sandrino Santoro!
Gostaria de saber quais são as conseqüências da existência de dois arcos, alemão e francês.
Quais são os pontos negativos e positivos que isso gera para o instrumento?
Obrigado

Sandrino
Santoro
Oi, Lucas! Tudo bem?
Eu e outros baixistas não temos problemas algum em usar o arco alemão ou francês. O importante é saber tocar.
Hoje existem alguns baixistas muito bons usando ambos os arcos.
Não penso que o arco possa afetar o instrumento. Eu mesmo gosto dos dois arcos e tenho um alemão também.
Outro dia, esteve em minha casa o professor Luciano da Paraíba, que toca com arco alemão. Ele acha que o baixista de hoje deveria tocar com os dois arcos.
É como tocar em pé ou sentado. O que é melhor?
Um abração pra você.

Agatha de Castro
Olá, Sandrino! É um grande prazer!
Gostaria de saber do teu início. Como foi que descobriu-se contrabaixista, qual tua história de paixão contrabaixistica e tuas referências.
Desejo a você sucesso e saúde!

Sandrino
Santoro
Oi, Agatha!
Vou tentar explicar: na realidade, eu queria tocar violão porque onde nasci, em Acquappesa, província de Cosenza, Itália, tinha, como tenho ainda, primos que tocavam violino, violão, órgão etc.
Cheguei ao Brasil com 13 anos e fui estudar música com 17 anos, juntamente com um primo meu que cantava muito bem e estudava música com Enrico Zottolo.
Após algum tempo, pedi para o professor Enrico me ensinar. Ele aceitou e fiquei feliz da vida.
Depois de pouco tempo, ele me perguntou que instrumento queria tocar e eu disse que queria o violão. Ele não gostou e me disse: “você tem que tocar contrabaixo porque tens uma mão grande e eu vou fazer o teu primeiro contrabaixo” (ele era luthier também). Fui para casa pensativo. Falei com meu pai e depois de muita conversa ele disse: “se o Zottolo falou, está falado”.
Hoje em dia acabou o problema de mão grande. Tive muitos alunos com mãos pequenas que tocam muito bem.
Meu início foi difícil, muitos colegas onde morei começaram a caçoar de mim e do instrumento, mas aos poucos foram se acostumando e pararam de mexer comigo.
Não tinha automóvel e era difícil subir a escadaria onde morava com o baixo nas costas, mas quando se é jovem, tudo é mais fácil.
Começei as primeiras lições com o Zottolo, depois com Antonio Leopardi que vinha até minha casa para me dar aulas.
Depois de ano e meio ele veio a falecer. Passei então a estudar com o professor russo Vassil Yeremej, que mostrou um modo de tocar diferente. A partir daí, fui evoluindo e gostando porque ele era um grande solista, porém, dei azar, após 4 anos, ele voltou para a Rússia.
Conhecei depois o professor italiano Lucio Bucarella, que vinha constantemente ao Brasil, com o famoso conjunto I Musici, da Itália. Ficamos amigos e sempre que ele vinha, tirava uma “casquinha” (somos amigos até hoje). Estudei também com Agostino Paglia.
Outra referência foi o Gary Karr. No início, quando ouvia seus discos, tentava imitá-lo. Se notar, ele trata o contrabaixo como um bom cantor.
Um grande abraço prá você

Daniel Menezes
Sandrino,
Queria saber da sua perspectiva em relação ao contrabaixo.
Já ouve épocas que tendo um contrabaixo e um arco alguns de nós já tinhamos empregos. Hoje em dia às vezes a cobrança é maior do que relação ao outros intrumentos.
Em em relação ao arco, já tive discussões sobre usar ou não. Antigamente diziam que baixo sem arco é como se nem tivesse corda. Hoje em dia pensa-se diferente e você, como pensa?
Muito obrigado
Sandrino Santoro
Olá, Daniel!
Você tem razão: hoje tudo é mais difícil. É claro que a cobrança é maior, pois temos centenas de contrabaixistas que, além de tocarem em orquestras, são solistas e professores, haja vista quantos cds temos com solistas de contrabaixo, muito mais que violistas, violinistas, violoncelistas etc. Por isso, a cobrança é maior.
Hoje existem contrabaixistas na área popular que não usam o arco. Eu penso que o arco completa a formação.
Abraços
Daniel Santana Saab
Os contrabaixistas ao longo da formação passam por crises existenciais, morais, musicais, enfim, tem vezes que queremos mandar o “mais grave de todos” para as cucuias e seguir num outro rumo…
Como você se encontrou e se firmou no instrumento que hojé é…(sem palavras) o que é?
Sandrino Santoro
Oi Daniel, boa pergunta!
Não é só nosso instrumento: os violoncelistas, violinistas e violistas passam pelos mesmos problemas.
Minha idéia é não dar bola pra estas crises, é normal para quem quer fazer um bom trabalho.
Tive muitas, às vezes estudava um trecho orquestral e no meu íntimo dizia “hoje vai sair tudo legal”. E, quando acabava a ópera, balé ou concerto, eu saía arrasado, nada havia acontecido como tinha planejado. Sabe por quê? Quem gosta daquilo que faz, quer sempre mais e mais.
Não ligue muito, nem pense tanto: estude!
Abraços e boa sorte
Jonas da Silva Junior
Sandrino, o que você acha mais importante, para ter uma boa sonoridade? E como fazer?
Sandrino Santoro
Olá novamente, Jonas!
Creio que não é difícil ter uma boa sonoridade:
1°) Estudar bastante descontraído;
2°) Não querer tirar muito som, vai aumentando aos poucos o peso do teu braço quando segurar o arco, independente se é o alemão ou francês;
3°) É muito importante o lugar onde se passa o arco, que você sabe é entre o cavalete e o espelho, e naturalmente a 90 graus da corda.
Usar muita crina ou pouca, dependendo do trecho, também ajuda.
Abraços
Ronnie Oliveira
Mestre Sandrino, queria uma dica prá samba ou choro com arco. O que devo fazer?
Quero também dizer que o senhor já deu aula para a minha querida professora (Miranda Bartira). Ela sempre fala bem do senhor.
Eu já toquei numa prova um choro do Adriano Giffoni chamado “Sandrino no Choro”!
Incrível, você é uma uma meta para mim em questão de sonoridade, músico e etc…
Abraços, Mestre!
Sandrino Santoro
Olá, Ronnie! Tudo bem? Obrigado de coração pelas tuas palavras a meu respeito.
Existem alguns livros (métodos) que poderiam ajudá-lo:
Do Adriano Giffoni, do André Rodrigues, do Alexandre Brasil que fez sua dissertação de Mestrado falando sobre Choro e transcreveu alguns para o contrabaixo, do Dôdo Ferreira, etc.
Abração
Alessandra Castro
Querido professor,
Primeiramente, quero agradecer-lhe por todo incentivo, ajuda e carinho comigo e por toda a sua contribuíção para o contrabaixo!
Minha pergunta é: como incentivar os alunos que tem mais dificuldade em tocar o contrabaixo?
Um grande abraço ao senhor e toda a sua família. Saudades sempre!
Beijo
Sandrino Santoro
Minha cara amiga Alessandra, como estão todos por aí? Estou com saudades.
Voce não tem que me agradecer de nada, eu incentivo a todos que queiram estudar este “violino grande”.
Tu, que já estás ensinando, também com certeza deve incentiver seus alunos.
É fácil:
1°) Procure cordas de solo e afine com afinação de orquestra;
2°) Não queira que o aluno tire muito som no início;
3°) Procure ensinar músicas que ele conheça, como por exemplo “Cai Cai Balão”, “Parabéns prá você”, músicas de carnaval as mais conhecidas;
4°) Tratar os alunos com o maior carinho possível.
Abraços
Rúben Meirelles
Grande Sandrino,
Nunca passou pela sua cabeça escrever um método para contrabaixo?
Quais são as suas dicas na hora de escolher um bom instrumento?
Abraço

Sandrino
Santoro
Meu caro Rúben, obrigado pelo apelido de “Grande”, mas sem falsa modéstia, com 71 anos me considero “pequeno”.
Já sim. Anos atrás pensei em escrever, porém, visto que existem tantos métodos, acabei desistindo da idéia.
Escrevi alguns estudos sobre intervalos. Voce pode experimentá-los:
Toque uma nota qualquer e começe com o intervalo de 2ª, depois com intervalo de 3ª, 4ª 5ª, 6ª, 7ª 8ª, 9ª etc, subindo e descendo sempre, com arcadas variadas e ritmos diferentes, de preferência ligando sempre os sons. É bom praticar este exercício em todas as cordas.
Rúben, chegamos aqui em um ponto bastante difícil que é a compra do contrabaixo.
Na realidade, qualquer instrumentista vai em busca do instrumento ideal, mas todos nós sabemos que é complexo, porque atualmente não existem mais contrabaixos antigos, que são muito raros, e consequentemente muito caros.
Eu mesmo tive excelentess contrabaixos e os vendi para alunos meus. Na época era fácil encontrá-los porque vinham orquestras da Europa e deixavam seus instrumentos por aqui a preços muito bons.
Agora existem contrabaixos chineses para profissionais que são bons ou então encomendar para um bom luthier que pode conseguir em madeira nacional a 9 mil e em madeira importada de 15 a 20 mil reais.
Deu para entender? Para completar, um arco bom também é muito difícil de se encontrar.
Um abração

Voila Marques
Gostaria que você falasse sobre o vibrato para a gente…
Como você ensina o vibrato?
Ele é flexível, ou seja, muda de acordo com o estilo ou o andamento da música?
O instrumentista pode variar de vibrato de acordo com a região do instrumento por causa da emissão do som, ou ele é sempre o mesmo tanto nos graves quanto nos médios e agudos, e a resposta do instrumento é que se encarrega de “fazer” a diferença?
Penso no vibrato como um recurso expressivo, mas vejo muita gente usando bastante o vibrato como “recurso de afinação”, ou seja, as notas saem meio baixas ou altas, e o contrabaixista vai “afinando” com o movimento de oscilação da mão. O que você pensa sobre isso?
O que fazer para melhorar o vibrato?
Obrigada e beijocas contrabaixísticas
Sandrino Santoro
Olá, Voila. Pelo que me lembro você tinha um bom vibrato. Não sei como está agora.
É claro que muda com o estilo da música: se for Barroco, pouco vibrato.
Já no Romantismo, o vibrato torna-se maior de acordo com os temas do autor.
Se for triste, não precisa de muito. De qualquer maneira, este é um assunto bastante polêmico.
Hoje em dia existem contrabaixistas que não vibram nada e o som é bom.
Eu prefiro o Gary Karr e tantos outros. É claro que o instrumento ajuda muito e a nota estando bem afinada vai vibrar por simpatia. Experimente!
Voila, o que penso é que o vibrato não pode ser igual ao de “cabrito”. Entendeu? Espero que sim.
Você tem toda a razão que o vibrato é um recurso expressivo, mas se procurar a Maria Callas, ela vibra divinamente, basta que nós a imitemos. Ele ajuda como recurso de afinação sim.
O que penso é que de modo geral são poucos os músicos que pensam nas notas e nos intervalos antes de executá-los. Naturalmente que os que pensam serão os mais afinados, por quê? Porque a correção é feita tão rápida que ninguém percebe.
Para melhorar o vibrato, penso que estudando com o pizzicato ajuda muito, pois muitas vezes o que atrapalha é o arco.
Estude devagar e relaxado. Procure notar qual dedo é o mais cômodo para vibrar e explore este dedo.
Se na 1ª posição for difícil, procure na 3ª e 4ª posição. Nesta região, os harmônicos vão ajudar. Vá depois para as notas agudas, pois nesta região há alunos com mais facilidade do que nos graves.
Faça um trabalho de glissando com qualquer nota em intervalos grandes, reduzindo até um tom e depois meio tom. Isto cada vez mais rápido, irá ajudar.
Por final, tente as cordas duplas vibrando todos os dias um pouco.
Quando você ouvir vibrando bem as duas notas, é sinal que já chegou no “pulo do gato”.
Abraços

Voila Marques
Sandrino,
Como estamos encerrando agora o prazo para perguntas na comunidade, nós da ‘Mulheres no contrabaixo’ gostaríamos de saber se você tem mais alguma coisa importante, toque, dica, conselho, etc, para falar para os contrabaixistas…
Aguardamos as suas respostas!
Obrigada e beijocas contrabaixísticas
Sandrino Santoro
Voila, em primeiro lugar quero parabenizá-la por tudo e por todas as perguntas que me foram enviadas.
Não sei se consegui atender a todos com as minhas respostas.
Como você sabe, é preciso gostar muito do contrabaixo, caso contrário não se chega a lugar nenhum.
Uma dica boa seria começar estudando um pouco de violoncelo e depois pegar no contrabaixo. Você vai notar que a postura do aluno será mais relaxada e vai querer sentar como senta o violoncelista, o que é muito bom.
Atualmente alguns dos grandes solistas sentam em um banquinho baixo, com os dois pés no chão. Outros com os dois pés no banquinho e outros continuam tocando em pé. Tudo é válido, basta tocar bem.
Um fato curioso aconteceu em Brasília com um amigo meu que havia estudado na Holanda. Ele estava tocando uma peça simples, para me mostrar as extensões absurdas que ele fazia sem necessidade.
Quando terminou, dei os parabéns e pedi para tocar a mesma peça apenas com o 1° dedo. Ele tocou e pedi que tocasse apenas com o 2°, com o 3° e com o 4° dedo, sucessivamente. Ele, um pouco chateado, me perguntou: “você não vai querer que eu toque apenas com o o polegar?”, e eu respondi que sim.
Quando terminou de tocar, ele me perguntou se eu estava satisfeito, e eu disse que sim.
Para terminar este episódio, perguntei o que ele havia achado de ter tocado a peça apenas com um dedo, e ele não soube me responder.
Então eu finalizei, dizendo que ele conseguiu tocar muito bem porque é um grande músico.
Moral da história, Voila, o importante é tocar, não importa se o arco é francês ou alemão, se toca em pé ou sentado, não importa o dedilhado que se usa, não importa se toca com afinação de orquestra ou de solista.
O professor italiano Massimo Giorgi tocou em meu contrabaixo com cordas de orquestra afinadas um tom acima. Depois de meia hora, ele me disse: “Não precisa trocar as cordas”. No dia seguinte, o recital dele foi maravilhoso.
Terminando, espero que tenha dado minha contribuição mais uma vez ao contrabaixo, com meus 71 anos de vida.
Um abraço carinhoso a todos

Rodolfo
Mr Sandrino,
Apesar de ser apenas um mero “aspirante”a contrabaixista, tenho que lhe dar os parabéns pela grande carreira como músico!
Dá até inveja (mas é uma inveja boa, tá?)… Vida longa ao Sandrino e ao seu contrabaixo!

Voila Marques
Sandrino,
Primeiramente, a ‘Mulheres no contrabaixo’ gostaria de agradecer as suas respostas, que foram ótimas!!!
Essa entrevista contrabaixística está sendo muito importante para todos nós da comunidade e para todos os contrabaixistas de um modo geral!
“Segundamente”, gostaríamos também de agradecer a seu filho e violoncelista Paulo Santoro, que nos tem dado todo apoio logístico e virtual para a realização desta sua entrevista no nosso “Linhas de Baixo”!
Obrigada e abraços contrabaixísticos!

Alessandra Castro
Querido professor,
Todos estão bem por aqui graças a Deus. Aqueles alunos que eram iniciantes já estão concluindo o curso técnico no conservatório e a safra está sendo renovada. Sentimos muitas saudades suas também!
Como o senhor sabe, a faixa etária dos meus alunos iniciantes varia de 11 a 18 anos. E esta fase é difícil algumas vezes conseguir disciplina nos estudos e no curso de um modo geral. É quando os pais cobram muito mais a aprovação no colégio ou no vestibular e aí o estudo do instrumento fica totalmente abandonado.
Só se estuda na hora da aula ou 5 minutos antes. Mesmo que se converse e explique a necessidade de se estudar todos os dias. Minha pergunta é: O que o senhor sugere de técnica e obras para despertar nesses alunos o interesse nos estudos e obter resultados satisfatórios, principalmente desses alunos ao tocar o contrabaixo.
Um grande abraço ao senhor e toda a sua família. Beijos
Sandrino Santoro
Oi, Alessandra. Isto que você escreve é a coisa mais verdadeira.
Quando eu estava na Escola de Música da UFRJ dando aula, tinham aqueles que faziam instrumento B (complementar), e assim que compareciam eu perguntava: “Você tem interesse em aprender alguma coisa no contrabaixo?” Quando a resposta era “não”, eu dizia: “Entao não precisa vir a aula e te dou uma nota baixa”. Quando dizia “sim”, naturalmente eu procurava dar pequena técnica para desgustar um pouco do instrumento.
Para despertar o interesse nestes teus alunos e obter resultados satisfatórios, é bom usar o método Suzuki. Depois, você pode mandar que eles façam alguma música usando somente os sons harmônicos.
Outra maneira seria dar a eles músicas muito fáceis, como as música infantis.
Abraços
Lucas Oliveira
Olá, Sandrino. Primeiramente, agradeço pela sua ajuda.
Nessa segunda pergunta gostaria que voce falasse sobre o repertorio do contrabaixo, quando ele começou a ser usado como instrumento solo até os dias atuais.
Grande abraço e muito obrigado!
Sandrino Santoro
Oi, Lucas!
O repertório para contrabaixo solista de nosso conhecimento começou com Domenico Dragonetti (1763-1846), que era muito amigo de Beethoven.
A título de curiosidade, Dragonetti tocou na missa quando Beethoven faleceu.
Seu concerto em lá maior é tocado até hoje. Embora alguns digam que é um plágio do concerto do Edoard Nanny, eu não acho. Poderia até afirmar que o Nanny gostou tanto do concerto dele que fez um parecido.
Ele escreveu ainda um outro concerto que foi descoberto a pouco tempo. Tenho a partitura a pouco tempo também, mas nunca ouvi nem conheço alguém que tenha gravado.
Depois dele, naturalmente, que vem o famoso Giovani Bottesini, que era apelidado de “Paganini do Contrabaixo”. E ainda outros do século XX e XXI.
Abraços

Jeronimo
Parabéns!
Voila, foi mui interessante ler essas respostas do prof. Sandrino. Considerei uma masterclass de primeira.
Abraços
Voila Marques
Que bom que você gostou da entrevista, Jeronimo!
Eu também adorei!
Voila Marques
Sandrino, eu que gostaria de agradecer tudo o que você fez por mim, pois tenho certeza que foi uma grande honra para mim ter sido sua aluna, assim como tenho certeza de que se eu tivesse começado o contrabaixo com outro professor os resultados muito provavelmente não teriam sido o que foram. Se não foram melhores, pode ter certeza de que não foi por culpa do professor!
A pergunta sobre o vibrato foi mais abrangente do que só à minha pessoa, pois eu acho que esse assunto, além de polêmico, precisa ser mais escrito e falado. E ninguém melhor que você para fazer isso, com esse seu vibratão maravilhoso!
Adorei as suas respostas. A última me deixou emocionada…
Agora conte para nós: qual é a sua rotina de estudo e qual a rotina que você acha interessante ser feita por um aluno que quer se profissionalizar no contrabaixo?
Como você acha que o contrabaixista pode cuidar da sua saúde na prevenção de tendinites, pinçamentos de coluna, etc?
Obrigada e beijocas contrabaixísticas
Sandrino Santoro
Oi Voila, você, como sempre, muito gentil.
Espero que esse seu trabalho possa render muitos frutos aqueles que queiram entrar nos sons graves…
Minha rotina de estudo com 71 anos é pegar no contrabaixo quase que diariamente. Começo estudando cordas soltas beeeem devagar. Depois vou para as escalas, de preferências nas 4 cordas, depois faço intervalos de 3ªs, 4ªs, 5ªs até oitavas, sempre sem vibrato e o mais descontraído possível e sem olhar para o instrumento.
Isto ajuda na afinação, de preferência mentalizando e cantando a nota antes de executá-la.
Faço também arpejos com suas inverções, principalmente os de 7ª diminuta.
Depois disso, estudo um pouco de vibrato para que a mão esquerda fique mais solta.
Procure sempre uma música nova. Normalmente, uma mais fácil e outra mais difícil.
Isto tudo pode ser feito de memória, porém o método de escalas do Eugene Levinson é ótimo e tem praticamente tudo que falei no início.
Para o profissional que deseja se profissionalizar, é uma pequena dica do que faço.
Com certeza, outros colegas pensam diferente e consequentemente estudam de outras maneiras que também são válidas.
Quanto ao ponto saúde que você quer saber, é importantíssima esta pergunta.
Voila, hoje em dia a maneira mais prática para não ter problemas de coluna é sentar em um banco mais baixo com os dois pés no chão ou em um banco normal com os dois pés apoiados no banco.
Não se debruçar no instrumento a todo momento. Quando fizer isto, vá com os braços e não com a cabeça.
Quando estiver nas posição grave, tocar com a coluna voltada para trás para não ter este pinçamento de coluna, como você menciona.
Quanto às tendinites, acontece porque o instrumento tem cordas altas, cordas grossas ou mal montado. Ou seja, para quem não quer sofrer de tendinite, usar cordas mais finas e tocar relaxado com ambas as mãos. Nessas horas o vibrato ajuda, a não ser na orquestra que às vezes é preciso dar uma boa “cacetada” em uma nota exigida pelo autor ou pelo maestro.
Obrigado por tudo e sempre que precisar, estarei à disposição!
Voila Marques
Acabamos de encerrar a entrevista com o grande contrabaixista e professor Sandrino Santoro.
Gostaríamos imensamente de agradecer ao prof. Sandrino por ter aceito o nosso convite e pela sua valiosa participação contrabaixística aqui conosco!
Agradecemos também o seu oferecimento e sua disponibilidade em nos ajudar sempre que necessário!
A ‘Mulheres no contrabaixo’ estará sempre com as suas páginas contrabaixísticas abertas para recebê-lo!
Gostaríamos também de agradecer a participação dos nossos colegas contrabaixistas Jonas da Silva Junior, Wagner Gadelha, Lucas Oliveira, Agatha de Castro, Daniel Menezes, Daniel Santana Saab, Ronnie Oliveira, Alessandra Castro, Rúben Meirelles e Voila Marques que, com suas perguntas, contribuíram para o sucesso e o ótimo nível do nosso primeiro
“Linhas de Baixo”!!
Reiteramos o nosso agradecimento ao violoncelista e filho do Sandrino, Paulo Santoro, pelo apoio logístico e virtual!
Abraços e parabéns contrabaixísticos!”

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