Marcador: Orientações contrabaixísticas


Pergunta de Paulo Seixas, ao canal do Blog da Voila Marques, no Youtube: “(…) Gostaria que você me tirasse uma dúvida, poderia postar um vídeo mais específico dos movimentos de arco abaixo? Estou estudando um método específico muito interessante, vou lhe exemplificar o que nele tem abaixo:

G= Arco inteiro
H= Meio arco
1/3 B= Um terço do arco
u.H= Metade inferior do arco
O.H= Metade superior do arco
Fr. Frog end of bow (fim de sapo de arco)
M=Meio arco
Sp= No ponto
M*= Na parte superior ou inferior da curva”

Paulo, infelizmente, estou temporariamente sem poder postar vídeo, mas assim que possível o farei, ok?
Enquanto isso não acontece, vou deixar por escrito a explicação…

Primeiro, é preciso conhecer quais são as partes do arco, a direção do arco e os movimentos com o arco, entender todo o “processo” e praticá-lo nos estudos. Pode ser que demore um pouco até você “automatizar” os movimentos, mas disciplina, paciência e pequenas noções de matemática e física fazem o resultado aparecer mais rápido nos estudos e nas músicas.

PARTES DO ARCO:

Talão (frog): parte inferior do arco, onde fica a mão direita do contrabaixista, à direita dele:

Ponta: parte superior do arco, onde fica a ponteira (aquele biquinho de osso), à esquerda dele:

Meio do arco: é exatamente a metade do arco. Se o arco medir do parafuso do talão (ponta inferior) até a ponteira (ponta superior) 72 cm, o meio do arco será em 36 cm:

 DIREÇÃO DO ARCO:

Arco para baixo: é quando o movimento que vai para a direita do contrabaixista (para a esquerda do arco), do talão para a ponta, e é representado por um quadrado sem o risco de baixo:

Arco para cima: é quando o movimento vai para a esquerda do contrabaixista (para a direita do arco), da ponta para o talão, e é representado por um V:

MOVIMENTOS COM O ARCO:

Arco inteiro: é o movimento do arco feito do talão até a ponta (arco para baixo), ou da ponta até o talão (arco para cima), usando todo o arco para a execução da nota ou do grupo de notas (quando há ligaduras, etc.). Para esse movimento pode-se dizer “arco inteiro” ou “do talão até a ponta”:

Meio do arco: é o movimento do arco feito usando somente metade do arco, no meio dele. Para isso, é necessário descartar ¼ de arco de cada uma das extremidades (inferior e superior), e tocar usando somente a metade restante, no meio do arco. O meio do arco pode ser feito em direção à ponta (arco para baixo) ou em direção ao talão (arco para cima). Para entender melhor a quantidade de arco utilizada, divida imaginariamente o arco em quatro partes iguais. Não toque no primeiro quarto e nem no último: somente nos dois quartos do meio:

Metade inferior do arco: é quando o movimento do arco parte do talão, em direção ao meio do arco (arco para baixo), ou do meio do arco, em direção ao talão (arco para cima);

Metade superior do arco: é quando o movimento do arco parte do meio do arco, em direção à ponta (arco para baixo), ou da ponta, em direção ao meio do arco (arco para cima):

Talão: quando se diz “tocar no talão”, o movimento é feito na oitava ou no quarto inferior do arco, começando no talão até uns quatro dedos depois dele, no máximo (arco para baixo), ou desses quatro dedos após o talão em direção ao talão (arco para cima):

Ponta: quando se diz “tocar na ponta”, o movimento é feito na oitava ou no quarto superior do arco, começando até uns quatro dedos antes da ponta, no máximo, em direção à ponta (arco para baixo), ou da ponta até esses quatro dedos depois dela (arco para cima):

Terço do arco: é o movimento do arco feito usando somente um terço do arco. Para isso, é necessário dividir o arco em três partes iguais. Com isso haverá três terços: o inferior, feito no terço mais próximo ao talão; o terço do meio, quando se elimina o som dos terços inferior e superior, e toca-se somente com o terço que sobrou; e o terço superior, feito no terço mais próximo à ponta. Todos esses movimentos podem ser feitos com o arco para baixo ou para cima.

Nunca ouvi os termos “na parte superior ou inferior da curva”. Acredito que o autor tenha tido a intenção de definir os movimentos feitos a partir ou até a curva do arco (meio do arco). Com isso, teremos o movimento do meio para a ponta (parte superior), e do meio para o talão (parte inferior). Para fazê-los, é só reler “metade inferior do arco” e “metade superior do arco”.

Para complementar os seus estudos, sugiro que dê uma olhada nesse artigo da Sônia Ray e do Fausto Borém:

Bow Placement on the Double Bass: a Notational Proposal of Bow Regions and String Contact Points

Os desenhos do texto foram tirados desse link, que também vale a pena dar uma “zoiadinha”:
https://www.wps.pwp.blueyonder.co.uk/Elements_of_good_violin_technique.htm

Espero ter ajudado.
Boa sorte contrabaixística procê!
Voila

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“Gostaria de saber qual elemento classifica uma “posição” como sendo “meia” ou “intermediária”, e qual seria a função didática disso, ou seja, a intenção de alguns autores de método?”
Perguntas feitas para o Blog da Voila Marques, por Marcos.

Marcos, para responder a sua pergunta, preciso abordar outros assuntos também, certo?
Para começar, vamos definir os dedos da mão esquerda:

Dedo 1: dedo indicador
Dedo 2: dedo médio
Dedo 3: dedo anular
Dedo 4: dedo mínimo

A nomenclatura das posições que utilizo sempre tem uma posição “inteira” quando o dedo 4 toca uma nota da escala de Dó Maior na corda sol.
Tomando como referência a corda sol, esta nomenclatura vai até o dedo 4 no fá sustenido (mi 1 – fá 2 – fá sustenido ou sol bemol 4) e continua com as três posições de dedilhado 1-2-3, terminando na sétima posição (sol – sol sustenido ou lá bemol – lá).

“Resumindo”, na corda sol:
Na primeira posição, o dedo 4 estará no si.
Na segunda posição, o dedo 4 estará no .
Na terceira posição, o dedo 4 estará no .

Antes da primeira posição, há a meia posição (sol sustenido ou lá bemol 1 – lá 2 – si bemol ou lá sustenido 4.
Repare que, aí, o dedo 4 não está em uma nota da escala de Dó Maior (dó – ré – mi – fá – sol – lá – si).

Mas entre a segunda posição e a terceira tem uma posição (si 1- do 2 – dó sustenido ou ré bemol 4), em que o dedo 4 também não está em cima de uma nota da escala de Dó Maior, certo?
Então você terá mais uma meia – alguma coisa – posição, no caso, segunda meia posição.

Aí, virá a terceira posição (dó 1 – dó sustenido ou ré bemol 2 – ré 4).
Depois, você terá a terceira meia posição (dó sustenido ou ré bemol 1 – ré 2 – ré sustenido ou mi bemol 4).
E por aí vai.

Essa é uma das formas de nomear as posições, já que existem outras.
Alguns métodos, por exemplo, nomeiam cada posição com uma numeração inteira, sendo que a única “meia” é a meia posição (sol sustenido ou lá bemol 1 – lá 2 – si bemol ou lá sustenido 4).

Mas qual a função de nomear as posições?
Bem, acho que é para chamar as lindas pelo nome e definir as notas feitas com dedilhados pré-determinados, sem mudança de posição.

Mas, como a posição é um conjunto de notas feitas com a mão parada (sem fazer mudança de posição) em todas as cordas do instrumento, vale lembrar que, chamou por uma posição, várias notas atendem o chamado.

Nos dedilhados 1-2-4 ou 1-3-4, o conjunto de notas de uma posição pode ser de doze notas (contrabaixo de quatro cordas) ou de quinze notas (contrabaixo de cinco cordas) o que, por si só, já pode ser caracterizado como formação de quadrilha. Saber o nome de cada mafiosa e o seu esconderijo secreto pode ser o segredo do sucesso nas horas de desespero…

O contrabaixo costuma ser afinado assim: sol (1ª corda, a mais aguda) – ré (2ª corda) – lá (3ª corda) e mi (4ª corda, a mais grave). Se houver uma 5ª corda, ela será a si, mais grave que a corda mi. Essa é a afinação chamada orquestral.

Sendo assim, na primeira posição, teremos as notas:
4ª corda (mi): fá sustenido (ou sol bemol) 1- sol 2 –sol sustenido (ou lá bemol) 4;
3ª corda (lá): si 1 – dó 2 – dó sustenido (ou ré bemol) 4;
2ª corda (ré): mi 1 – fá 2 – fá sustenido (ou sol bemol) 4;
1ª corda (sol): lá 1 – lá sustenido (ou si bemol) 2 – si 4.

Ao fazer uma posição com os dedilhados 1-2-4 ou 1-3-4 (onde estiver escrito dedo 2, substitua pelo dedo 3), a nota mais grave dessa posição será feita com o dedo 1, e a mais aguda será feita com o dedo 4.
A nota mais grave da primeira posição é o fá sustenido da corda mi, e a mais aguda é o si da corda sol.

Posição, são essas notas, acompanhadas das notas dos outros dedos na mesma corda, e do “recheio” das notas que ficam nas cordas paralelas, sem mexer a mão nem prá trás, nem prá frente, já que essa “mexida”, quando feita para trocar de nota, é o que chamamos de mudança de posição. E se mudou de posição, logicamente, não está mais na mesma posição.

Para facilitar um pouco a compreensão disso, imagine um edifício com vários andares e quatro apartamentos por andar. Em cada apartamento moram três pessoas.
Posição parada é quando os três moradores de cada apartamento visitam os seus vizinhos de andar.
Mudança de posição é quando esses moradores pegam o elevador para visitar outros vizinhos, para ir ao play, sair do edifício, etc.

Repare que, na primeira posição, o fá sustenido existe tanto na corda mi, quanto na corda ré, e que o si existe tanto na corda lá, quanto na corda sol.
A diferença entre as notas com mesmo nome será de altura: um intervalo de uma oitava, ou seja, oito notas de diferença da primeira até a última nota (por exemplo: de um si para outro si temos: si –dó- ré – mi – fá –sol – lá – si). O fá sustenido da corda mi é mais grave que o da corda ré, assim como o si da corda lá é mais grave que o si da corda sol.

E aí vai a primeira observação – um tico óbvia, mas nem por isso menos importante: não existe nota completamente igual em uma mesma posição; ou ela vai mudar de nome (mesmo que o som seja o mesmo, como é o caso da enarmonia) ou mudará de altura (mesmo que o nome seja igual, sendo que uma nota de mesmo nome ficará mais aguda ou grave que a nota homônima).
Em uma posição, cada dedo é responsável por quatro notas distintas, uma para cada corda. Se o contrabaixo tiver cinco cordas, cada dedo é responsável por cinco notas, uma para cada corda.

A segunda observação, outro tico óbvia, é de que as notas de uma mesma posição são sempre tocadas com um dedo específico.
Por exemplo, na primeira posição, a nota dó (feita na corda lá) é sempre tocada com o dedo 2. Toda vez que você tocá-la com outro dedo, pode ter certeza de que não estará na primeira posição. Se você insistir que está na primeira posição, pode acionar o seu plano de resgate para músicos perdidos…

A terceira observação – mais que prá lá de óbvia – é de que, em uma mesma posição, as notas com o mesmo nome – por não serem da mesma altura (uma é mais grave e a outra é mais aguda) -, também nunca serão tocadas com o mesmo dedo.

Quando se estuda um método, normalmente o dedilhado já vem marcado e os métodos tradicionais de técnica (Simandl, Billé, etc.) costumam vir divididos por posições.

Muitas vezes, a posição não vem especificada no trecho musical, mas o dedilhado em cima da nota, e o número da corda embaixo (em algarismo romano: I – corda sol; II – corda ré; III – corda lá e IV – corda mi) sim, e funcionam como um GPS contrabaixístico, lembrando que é necessário um período de adaptação, para não surtar ao ler as bolinhas e o ritmo na partitura, e ainda ver se as notas têm antenas numéricas em cima e embaixo…

Nos métodos, encontramos a posição a ser estudada com as suas respectivas notas especificadas com os nomes mais “usuais” (sol, lá, si bemol, etc.) e/ou em notas enarmônicas (fá = mi sustenido; lá dobrado bemol = sol, etc.), pois essas notas também existem e precisam ser treinadas.
Por exemplo: na partitura tem um sol escrito e, de repente, aparece um fá dobrado sustenido e, logo em seguida, surge um lá dobrado bemol. Só olhos e mão adestrados continuarão na mesma nota e, mesmo assim, só se bem acompanhados de espírito elevado para não xingar a mãe do compositor e, no caso de concurso, do filho da mãe que escolheu aquela m de partitura… Mas se o contrabaixista não sabe sequer que existe esse tipo de nota, ele também não terá “autonomia” cultural para reclamar de nada. Até prá falar mal a gente tem que ter conteúdo…

Os métodos costumam ter estudos escritos na mesma posição que está sendo estudada, com escalas e arpejos das tonalidades que podem ser encontradas em cada posição estudada.
Neles, além do dedilhado escrito e, também da indicação da posição estudada (primeira posição, terceira posição, etc.) no “capítulo”, o professor de contrabaixo costuma anotar o dedilhado que se fizer necessário, ou mesmo modificar o que está sendo pedido.

Lembrando que não se anota posição: anota-se o dedilhado (número do dedo) e/ou o número da corda, e no dedilhado já está subentendida a posição que a nota a ser tocada está.
Não há necessidade de anotar tudo que é dedilhado, corda, etc, porque isso suja a partitura e vicia a ler assim. Procure anotar somente o necessário.

Quando não há dedilhado marcado no método, inicialmente, o contrabaixista tocará somente o que aprendeu e sabe. Felizmente, ele não terá muitas opções de escolha.

Conforme o contrabaixista vai adquirindo mais experiência, ele mesmo passará a definir o seu dedilhado. Dedilhado é algo bastante subjetivo e uma vasta margem de erros e acertos faz parte do processo.

Ao marcar um dedilhado em um determinado trecho musical, o contrabaixista atentará para muitas coisas, entre elas:
a) O conjunto de notas que poderão ser tocadas em uma mesma posição, levando também em consideração a articulação das notas (se ligadas ou articuladas, etc.);
b) O timbre (uma mesma nota pode ser tocada em outras posições ou mesmo em outras cordas, etc.);
c) O golpe de arco utilizado (se as notas poderão ser feitas na mesma corda ou não e a velocidade de execução delas, etc.);
d) A arcada (arco para cima ou para baixo e quantas notas serão tocadas em um só movimento);
e) A expressão sonora (o vibrato pode soar melhor com determinado dedo, uma mudança de corda pode estragar um trecho “cantabile“, uma mudança de posição perigosa pode ter dedilhados alternativos, etc.);
f) O resultado sonoro esperado (às vezes, o dedilhado mais fácil não soa tão bem, ou o dedilhado mais difícil pode atrasar a passagem, etc.);
g) O estilo musical (por exemplo, músicas do período clássico têm trechos que necessitam de muita clareza e rapidez, e isso requer um dedilhado que seja condizente com o objetivo).

Sempre insisto na importância de saber o nome de cada nota de cada posição porque, com o tempo, você saberá automaticamente que o mi bemol da terceira posição é tocado com o dedo 2, por exemplo, e que se em cima desse mi bemol estiver marcado 2, ele não será tocado na meia posição (dedo 1), por exemplo.

Mas o que fazer se eu encontrar um mi bemol com 1 em cima, já que ele pode ser encontrado na meia posição (corda ré), na 2ª meia posição (dedo 4 – corda lá), na terceira posição (dedo 2 – corda lá), na 3ª meia posição (dedo 1 – corda lá), na 5ª meia posição (dedo 4 – corda mi), 6ª posição (dedo 2 – corda mi) e na 6ª meia posição (dedo 1 – corda mi)?

Primeiramente, calma! Se está marcado 1 em cima do mi bemol, e você estiver fazendo um estudo de um método usando quase todo o braço do contrabaixo, provavelmente pode ser qualquer um desses mi bemóis aí de cima, porque a função do método é fazer a gente aprender a usar até os dedilhados mais esdrúxulos, mesmo que nunca mais a gente volte a usá-los na vida.

Agora, na prática, existem quatro posições para ele: a meia ou as posições da corda lá. Tudo vai depender do contexto musical, artístico e técnico, conforme escrevi quatro parágrafos atrás. Dificilmente, você usará os mi bemóis das outras posições, mas dificilmente não quer dizer nunca, certo?

Outra coisita: num naipe de orquestra, por exemplo, as passagens mais comprometedoras podem ter seu dedilhado definido pelo chefe de naipe e, nesse caso, mesmo que você não concorde com o contexto musical, artístico e/ou técnico usado por ele e que deteste o dedilhado a ser feito, o contexto disciplinar fala mais alto e deve ser respeitado.

Portanto, nome e esconderijo das criaturas, estratégia de ataque e disciplina para estudar e para respeitar são as cinco coisas iniciais que todo contrabaixista deve saber que existem, para não ser eliminado no futuro…

Espero ter ajudado, Marcos. Boa sorte contrabaixística procê!

Para ler mais sobre o assunto:
https://www.voilamarques.com//2011/05/64-como-se-livrar-das-posicoes-contrabaixisticas-comprometedoras/

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Meu querido contrabaixista e ex-aluno,

Fiquei triste com a notícia da sua crise contrabaixística, e espero que ela seja breve…

Infelizmente, quando as nossas expectativas e exigências internas com o contrabaixo são bem maiores que a capacidade de enxergar pequenos e gradativos resultados, é difícil acompanhar resultados satisfatórios e isso vai, pouco a pouco, frustrando todos os planos, sonhos e objetivos que temos com ele…

A insatisfação e a busca pela perfeição – mesmo que inatingível – são o motivo que nos faz estudar e, assim como a diferença entre o remédio e o veneno, o que torna a insatisfação e a busca pela perfeição produtivas é a dosagem.
Logicamente, não existe uma dose ideal, mas a proporção delas tem que ser sempre igual ou menor que a nossa autoestima, e menor ou igual à confiança de que conseguiremos gostar do que fazemos, mesmo que isso seja somente uma passagem para outros resultados.

Muitos contrabaixistas desistem do contrabaixo antes mesmo de se dedicar o suficiente para o alcançar o resultado que esperavam, o que não é o seu caso.
Você estudou muito, mas se esqueceu de ficar feliz com os pequenos resultados conquistados…
Você se deixou sufocar pelas suas próprias cobranças.

As cobranças fazem parte da vida adulta e são inerentes a todas as profissões; elas não são exclusividade para músicos.

Como já escrevi, na dose da cobrança está a diferença entre o veneno e o remédio.

Quando a cobrança é remédio, estudar muito e dar o melhor de nós mesmos para o contrabaixo são esforços que nos fazem sorrir.
Quando a cobrança é veneno, estudar e dar o melhor de nós mesmos para o contrabaixo são esforços incompletos. Dores e tensões pelo corpo, falta de energia e uma insatisfação constante fazem parte do processo.
Quem mandou tomar veneno, não é mesmo?

Ao tomar o veneno das cobranças exageradas, os resultados esperados são: implicar com o próprio som, depois com o arco, depois com você, até que você passa a implicar com o contrabaixo, com o professor, até chegar à Música.
Com isso, você se esquece de você mesmo, de se valorizar e de constatar que todas as suas conquistas e méritos tiveram a parceria do contrabaixo, que todas as mudanças na sua vida foram pelo contrabaixo…

Penso que, nessas horas – como em muitas outras -, uma conversa franca com o seu professor e/ou um bom bate-papo com colegas músicos mais experientes podem te dar um direcionamento útil e força para seguir em frente com o contrabaixo.
Professor de instrumento bom é também aquele que desiste de você somente bem depois de você ter desistido de si mesmo com o instrumento, sabe?

Música precisa de tempo e de direcionamento, e não é desmerecimento nenhum se achar incapaz de continuar e querer desistir.

Obviamente, todo mundo passa por crises na vida e elas fazem parte do amadurecimento de cada um.
O importante nessas horas é pensar no problema como uma crise a ser resolvida – como muitas outras crises que você já deve ter tido na vida ou mesmo como a primeira de muitas outras que ainda virão -, e deixá-la produtiva.

Que a crise seja produtiva enquanto dure!
Que tal assistir aulas de outros instrumentos? Que tal assistir mais vídeos de contrabaixistas e de outros instrumentos?
Certamente, você perceberá coisas que as suas extensas horas de estudo nunca deixaram perceber…
Há descobertas que fazemos com o contrabaixo e outras que importamos para ele mas, para isso, é preciso sentir a vida de outra maneira, e as crises são um ótimo momento para abrir esses horizontes, desde que não as aproveitemos somente para contemplar o próprio umbigo e só chegarmos à conclusão de que o melhor seria não tê-lo…

As crises podem ser sinal de mudança, não necessariamente de desistência…
Talvez não seja hora de você desistir do contrabaixo, mas sim de repensar a vida e mudar a dosagem das cobranças que você tem com você, em relação a ele.

Lutar é mudar o que não funciona, para ver se passa a funcionar.
Não sei se você lutou contra os problemas que hoje estão fazendo você querer desistir de tocar.

E nessas horas, lutar não é estudar a semana inteira exaustivamente, para se aborrecer com contrabaixo, só porque você não consegue enxergar melhorias em você. Isso não adianta nada.

Há muitos anos, ao assistir um recital do grande contrabaixista inglês Thomas Martin, fiquei apaixonada pela mão direita dele. Ao elogiá-la, ele me disse que um dia, ao implicar com ela, resolveu recomeçar e mudar tudo.
Ele não desistiu do modelo de arco que tocava e nem desistiu de ser contrabaixista por causa da mão direita dele. Ele lutou, mudando o que não estava funcionando para ele.

Por que não aproveitar para repensar as suas cobranças e recomeçar pela origem dos problemas como, por exemplo, relaxar mais ao tocar?

Dê a você e ao contrabaixo a oportunidade de respirarem juntos novos ares, para depois reavaliar se essas mudanças estarão valendo mesmo a pena…

Pare de tomar veneno e reaja, antes que seja tarde demais!

Beijocas contrabaixísticas da Voila

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“(…) Qual o tempo ideal para se treinar uma escala, por exemplo? (…) Como você faz para saber onde está cada nota, já que o contrabaixo é todo sem trastes? (…)” Pergunta feita por Ânderson Marcos, no meu canal do Youtube.

A escala é uma sequência de notas sucessivas, com distância pré-determinada entre cada nota – denominada intervalo e especificado em tom e semitom -, que definem uma tonalidade. Exemplo: escala de dó maior: dó- ré- mi- fá- sol- lá-si- dó.

Ela é estudada assim que o contrabaixista já tem noção de como colocar a mão esquerda e como sustentá-la nas quatro cordas, com o peso do corpo e sem o uso da força.

Para tocar uma escala em uma oitava (sequência de oito notas), sem mudar de posição, é necessário o uso de, no mínimo três cordas, com ou sem o uso de cordas soltas.

Todas as escalas “iniciais” requerem o uso da terceira corda ou da quarta corda, que são cordas mais grossas, que necessitam de mais peso do braço e da mão esquerda, ou seja, de mais tempo de contrabaixo.

Para se chegar a isso, é primordial que a notas sejam apresentadas ao pretendente a contrabaixista, que deverá passar pelos exercícios de uma a três notas, uma a uma, todas na mesma posição, lentamente e bem aos poucos, para ganhar resistência muscular e a confiança delas. Tem que chamar cada uma pelo nome e fazer cafunezinho com os dedos, senão…

Inicialmente, as notas são presas com a mão esquerda e tocadas em pizzicatto, ou seja, beliscadas com os dedos da mão direita (indicador e/ou médio).

Primeira semana: três sessões de cinco minutos – corda sol.
Segunda semana (3 x 7 minutos) – cordas sol e ré.
Terceira semana (3 x 9 minutos) – cordas sol e ré. A partir dessa semana, já é possível começar o estudo do arco, inicialmente em cordas soltas.

Quarta semana (3 x 11 minutos) – cordas sol, ré e lá. Na primeira posição, aqui já é possível fazer uma escala de dó maior até a nota si! Ufa! Se você começar a estudar pela meia posição, então já dá para fazer as escalas de lá menor harmônica e de si bemol maior completinhas!

Passe a quinta semana na companhia agradabilíssima das três cordas (3 x 13 minutos), mas nada de vuco-vuco com elas, para não se arrepender das bolhas nos dedos. Juízo.

O tempo de estudo aumenta gradativamente, assim como o tempo de cada sessão: se no início eram cinco minutos, vá aumentando dois minutinhos cada sessão, por semana. Intimidade é uma merda…

Quem já toca contrabaixo elétrico pode pular algumas etapas, fazendo uma ou duas cordas por semana. É possível iniciar o estudo do arco a partir da segunda semana, pois as posições da mão esquerda precisam ser adaptadas ao acústico antes de começar a mão direita, já que a postura é bem diferente do contrabaixo elétrico, que é um primo distante. Lembre-se que o seu compromisso é com as notas, e que parentes nessas horas só atrapalham…

O tempo “ideal” para treinar escalas depende do tipo de treinamento que você precisa fazer. Por exemplo: numa escala você pode estudar as notas, a afinação, a articulação da mão esquerda, a velocidade da mão esquerda, etc, como também pode estudar a articulação da mão direita (em pizzicato ou com o arco), a velocidade da mão direita (em pizzicato ou com o arco), os golpes de arco, etc.

Por isso, é muito difícil pré-determinar um tempo, já que o tempo está relacionado aos objetivos. Não importa se vai dar em namoro ou em casamento. O que não pode é trepar nas notas e cair fora, porque quem se estrepa é você.

Nos primórdios dos estudos contrabaixísticos, a escala servirá para conhecer as notas no braço do instrumento, para treinar a afinação das lindas e, principalmente, para aprimorar a “pontaria” para achá-las – mesmo que com a mão parada – porque, no início, as notas insistem em fugir da gente e se fazer de difíceis.

Mas o importante, quando já se tem condicionamento suficiente para tocar em três ou quatro cordas, é estudar ou tocar, no máximo, por 50 minutos seguidos e descansar, no mínimo, 10 minutos, para evitar lesões por esforço repetitivo.

Se tocar durante 50 minutos seguidos é muito, estude por 30 ou por 20 minutos e pare por 10 minutos, no mínimo. Se precisar, divida o estudo em mais de uma sessão. Nada de ficar de língua de fora na hora do bem bom com as notas, heim?

Com o tempo, aumente o número de sessões: uma, duas ou três sessões de 50 minutos (ou 30 ou 20) por dia. Aí, o intervalo de descanso pode ser maior, para que o desgaste físico seja menor.

Esse tempo também é gradativo, até que você possa chegar entre duas horas até seis ou oito horas de estudo, dependendo dos seus objetivos com o contrabaixo.

Nem todos os contrabaixistas estudarão seis ou oito horas na vida, assim como muitos não estudarão somente duas horas, mas todos deveriam nunca se esquecer de dividir o estudo em sessões intercaladas com pausas mínimas de 10 minutos.

Estudar posição por posição e escalas dentro de cada posição ou de duas posições (com ou sem corda solta) são exercícios importantíssimos para saber onde está cada nota.

Quando isso é feito de forma gradativa (1ª posição: sol maior, dó maior até a nota si; meia posição: si bemol maior, lá menor harmônica, fá maior; meia e 1ª posições: fá menor, sol bemol maior, sol menor, lá menor harmônica; 1ª e 2ª posições: dó maior, sol maior, etc.), a memorização das notas acontece naturalmente.

Com o desenvolvimento técnico do contrabaixista, as escalas também o acompanham, porém com muitos outros objetivos além de saber onde cada nota está.

Estudar dedilhados variados (por uma mesma corda, por duas cordas ou mais, etc.), em velocidades diferenciadas e/ou com articulações e/ou ritmos variados, contribui para a desenvoltura no instrumento. Os diamantes são para sempre e, provavelmente, para os outros. As escalas são para sempre, e para você!

Vale a pena perder um tempo para se adaptar às notas, à falta de trastes e às escalas, porque a vida contrabaixística não é um samba de uma nota só e, mesmo que fosse, uma mesma nota pode ser feita em alturas e/ou cordas variadas.

As notas são temperamentais e ciumentas: exigem que você tenha preparo físico, tempo disponível para elas e que pense nelas o tempo todo em que estiver tocando.

Ai de você se pensar em outra!…

E não se esqueça de mandar flores, heim?

Leia mais sobre o assunto: Como se livrar das posições contrabaixísticas comprometedoras…

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“Voila, meu problema é o seguinte: Não encontro um breu adequado ao meu clima. Dizem que isso faz variar o som do instrumento. Eu não acreditei, só que meu instrumento o fez. De noite, eu não tiro o mesmo timbre que eu tiro de dia. De dia o arco “agarra” muito mais! Pra que isso aconteça de noite, eu tenho que passar breu novamente no arco, e… nem sei se já viu disso, passo breu até nas cordas!”. Pergunta feita por Lucas Guimarães, no meu canal do Youtube.

Lucas, pode ser que haja muita variação climática na sua cidade. Sim, o som varia com a resina, com o arco (tem arco que “fecha” mais o som, tem arco que “abre”, tem arco que “embola” as notas, etc), com o clima, com o arco, com o contrabaixista… O som é um conjunto de fatores variáveis!

Se a sua crina está nova (com 2 anos, mais ou menos), então descartemos um problema de idade na crina. Se ela estiver muito suja, sugiro um banhinho com sabão de coco e um pentinho, sem molhar a vareta. Deixe-a secar à sombra e, depois de seca, enrole a crina pela vareta e deixe assim por meia hora, antes de usar o arco.

Eu não indico o uso de duas resinas diferentes, porque isso vai cagar o seu arco. Você já experimentou tocar de dia e não tocar à noite, e tocar novamente de dia, para ver se a crina “agarra” normalmente? Quando a crina está velha ou não é de boa qualidade, ela não pega resina direito de um modo geral. Não tem essa de crina temperamental, escolhendo o turno para trabalhar bem. Sendo assim, penso que o seu problema pode ser mesmo o clima, com variações grandes de temperatura e umidade, ou a quantidade de resina que você está usando. Usar muita resina, pode deixar a crina “ensebada” e, ao invés dela funcionar como se tivesse muita resina, não. O arco passa a falhar as notas, pelo excesso de resina.

O ideal é ter dois arcos: um para usar em casa e outro para a orquestra. Caso você só tenha um, sugiro que passe a usar menos resina nele. Em casa, eu não passo muita resina: uma ou duas passadas são suficientes para muitas horas de estudo. Na orquestra, passo de duas a três passadas e isso vale para um ensaio de três horas. Dificilmente passo mais resina durante o ensaio. Muita resina pode atrasar a emissão das notas. Pouca resina deixa o arco “deslizando” demais, com pouca aderência.

A resina faz o arco aderir na corda, mas o volume de som é dado pelo peso do corpo do contrabaixista, que faz pressão sobre as cordas. Procure dar também uma analisada em como está esta questão no seu estudo, ok?

Não sei qual a resina que você usa, mas sugiro a Nyman ou a Pop’s. Verifique a idade e a qualidade da resina, e depois, talvez uma modificação na quantidade de resina resolva o seu problema.
Experimente começar a tocar com uma passadinha, ou mesmo sem nenhuma para, como a gente diz, o arco “esquentar”.
No início isso vai ser bem difícil, mas depois você se acostuma. Se o arco “agarra” mais de dia, possivelmente o clima é mais quente na sua cidade nesse período. Se à noite o arco “agarra” pouco, a umidade deve ser maior nesse período.
Sendo assim, sugiro que você experimente passar bem pouca resina de manhã, e um pouco mais à noite, mas nada de excessos, e nem de passar resina nas cordas.
Lembre-se de que você estranhará muito isso no início e para que você não desista de estudar, sugiro que você diminua o uso da resina aos poucos, tipo uma passada a menos de resina por vez de estudo.

Outra coisa que você pode experimentar, é só passar resina à noite e não de manhã, e ver o resultado. Infelizmente e felizmente, como as variantes para a emissão são bem abrangentes, a jeito é fazer experiências, até chegar a uma conclusão. Só não se esqueça que a função da resina é aderir a crina na corda e não “agarrar” nela.
O som de contrabaixista com excesso de resina é muito feio e viciante: ele usa sempre em excesso e não consegue tirar som com pouca resina, assim como não percebe mais aquele som “arranhado” e horroroso. Na orquestra, a gente usa um pouco mais de resina, mas só lá, ok?

Outra coisita: a Pop’s é uma resina mais mole e a Nyman é menos mole. Em São Paulo, há uma “preferência” pela Pop’s, e no Rio de Janeiro há uma preferência pela Nyman, embora nenhuma resina seja unanimidade no mundo. Como à noite sua resina não pega bem, e não sei qual resina e nem qual a quantidade que você usa e nem o clima da sua cidade (nossa, não sei nada, hahaha!), talvez a Pop´s fosse uma boa opção para você, desde que usada com muita moderação durante o dia.

Leia mais sobre o assunto: Problemas com a resina?

Espero que essas dicas te ajudem.
Qualquer coisa, é só me escrever, ok?
Abraços contrabaixísticos

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Quando a gente pensa em estudar contrabaixo, uma dúvida frequente é sobre a necessidade de comprar um contrabaixo:

“Compro ou não compro um contrabaixo para estudar?”
Se for comprar, compre logo, enquanto você ainda tem excesso de disposição e/ou dinheiro para isso.
Se não for comprar, alugue um ou arranje um emprestado.

Se você não for bem sucedido nas opções acima, aproveite para se matricular em uma escola de música que tenha contrabaixo disponível para estudo e, se possível, que tenha um professor de contrabaixo legítimo, e não um professor genérico de contrabaixo (violinistas, violistas, violoncelistas, tubistas, trombonistas, pianistas, etc, que ensinam contrabaixo).

Depois disso, arranje dois horários por semana, no mínimo, para ir à escola estudar.
Ainda não criaram o curso de contrabaixo da Nasa, para que você o aprenda dormindo, a exemplo de uns controvertidos cursos de idiomas.

Eu até acredito que algumas soluções musicais possam acontecer em sonho, mas sair tocando o que você não estuda ou nunca estudou, é bem pouco provável de acontecer…

Sendo assim, se você quer ser contrabaixista, haverá necessidade de algum investimento, nem que seja de disposição para estudar.

“Vale a pena comprar um contrabaixo barato e de qualidade ruim?”
Você não está sem grana e precisando de um contrabaixo baratinho?
Quando você resolver vender o seu contrabaixo baratinho, alguém estará precisando de um, da mesma forma que um dia você precisou.

Contrabaixistas abastados são exceção, assim como estudantes de contrabaixo ricos.

O contrabaixo pode ser o amor da sua vida mas, mesmo assim, você deve pensar no seu bolso na hora de comprá-lo. O coração não costuma fazer bons investimentos financeiros.

A compra do contrabaixo é um investimento e deve se pagar por ele o preço, no máximo, justo.

Se você puder comprá-lo por um valor menor que o justo, melhor para você e pior para quem o está vendendo, mas quando se vende um instrumento se sabe que o valor depende de oportunidade, e da velocidade com que se precisa vendê-lo.

Quando se vende o contrabaixo, deve se tentar vendê-lo pelo valor, no mínimo, justo.

Se você conseguir vender o seu contrabaixo por um valor acima do mercado, melhor para você e bem pior para o otário que um dia terá dificuldades para encontrar um semelhante.

Para evitar problemas e dores de cabeça no futuro, procure se certificar da qualidade e da procedência do instrumento, e evitar eventuais problemas, às vezes “ocultos”, levando o elefantinho almejado a um luthier, ou a seu professor, ou mesmo a um colega contrabaixista que entenda bem de contrabaixos.

Um contrabaixo de boa qualidade, com problemas graves de falta de manutenção (afundamento de tampo, deslocamento da barra harmônica, braço empenado, rachaduras grandes, etc.), por exemplo, é certeza de gastos extras um dia.
Dependendo do grau do problema, ele pode apresentar problemas de repente e te atrapalhar, e muito.
Essas coisas sempre acontecem quando se tem um monte de despesas para pagar.

Se você não vai conseguir bancar gastos excessivos, é mais seguro optar por um instrumento dentro do seu orçamento, incluindo nisso as despesas com a manutenção do fofo.

“Mas não é melhor comprar logo um contrabaixo bom para estudar?”

Se você tiver possibilidades e certezas, sim.

Agora, se você for como a maioria dos estudantes, que ainda não têm muita certeza do real interesse em ser contrabaixista e, aliado a isso, ainda está sem dinheiro, console- se com um contrabaixo simplesinho. Além de se livrar de dívidas inconvenientes, poderá ser mais fácil dele ser vendido, caso você desista de estudar contrabaixo, ainda mais se você desistir na vigência das dívidas.

Se você optar por comprar um contrabaixo melhor, continue pensando no lindo como um investimento. Já que você vai gastar dinheiro com isso, pense também em comprar um contrabaixo não descartável, que fique bastante tempo com você, ou que possa no futuro vir a ser o seu segundo contrabaixo. É sempre bom ter mais de um. Muitas das vezes, você precisará de um em casa para estudar, e de um na “rua”, para trabalhar (orquestras, shows, casamentos, etc.).

“Mas não é melhor ter um contrabaixo ruim para estudar, porque quando se comprar um instrumento bom, aí fica tudo mais fácil de ser tocado?”

Penso que ter um contrabaixo bom na vida é uma oportunidade que você teve ou está tendo para isso.

Ter um contrabaixo ruim é uma falta de oportunidade de ter um contrabaixo bom, ou uma oportunidade para isso que foi desperdiçada.

E oportunidade é oportunidade. Se possível, você aproveita e pronto!

Para quem tem um contrabaixo ruim, deve ser um consolo e uma esperança saber que um dia as coisas vão melhorar com um contrabaixo melhor. Até a disposição para estudar muda!

Quem tem um contrabaixo bom logo no início só antecipou essa situação.

Agora, ficar com um contrabaixo ruim, ao invés de um melhor, porque isso vai torná-lo um contrabaixista melhor, é uma penitência incerta.

Você já toca um instrumento grande, ruim de carregar, que fica fazendo pum-pum-pum no fundo de uma orquestra, e você ainda quer tocar num instrumento ruim para melhorar como contrabaixista?

Conselhito: fique com o contrabaixo bom e arranje um chicote para as suas horas mais masoquistas, ou vá estudar mais para se penitenciar do pecado de ter gastado uma grana num… contrabaixo!…

Sabe aquele ditado que diz “junte-se aos bons e seja um igual”?

Junte-se ao contrabaixo – bom ou não-, e seja um contrabaixista…

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Bass Pen - Floating

Caneta de ... (se eu escrever o nome, vira cola)

Teste contrabaixístico

1) Leia o texto abaixo e, ao final, confira o resultado:

Texto contrabaixístico

Ele era considerado o piolho da casa. Sempre do contra – baixo, alto, inteligente, burro, gordo ou magro -, ninguém escapava às suas críticas ácidas e mordazes.

Detestava instrumentos de sons graves. Era contra baixo acústico e contra baixo elétrico, e nem mesmo a pobre e mondronga tuba escapava da sua lista negra.

Um dia, apaixonou-se perdidamente por uma contrabaixista e deixou de ser do contra, de ser contra baixo de quaisquer modelitos, deixando também de ser contra tudo e contra todos, para viver uma linda história de amor com a ela e um caso grave, intenso e por inteiro com o contrabaixo, que começou pela grafia do nome, e que se perpetuou em infinitas cartas de amor e em partituras por muitas vidas.

CONTRABAIXO é assim, um substantivo único e um amor plural…

Resposta do teste: letra C

Acertou?


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Rats Domino... rodent jazzes it up by pluking away on tehe double bass

Mais uma fábula contrabaixística …

Era uma vez um contrabaixista que morava no campo.

Ele levava sua vida contrabaixística tranquilamente. Estudava pouquíssimas horas de contrabaixo por dia – para quê essa pressa toda, sô? – e, devagar e sempre, ensaiava duas vezes por semana na orquestra da sua cidadezinha campestre.

Um dia, ele recebe a visita-surpresa de seu Primo Contrabaixista da Cidade, que chega de carro com o contrabaixo, banquinho, e toda a parafernália inútil das pessoas pouca afeitas aos ares campestres: aparelhagem de som, amplificador, home theater, hambúrgueres congelados, feijoada enlatada, tudo amontoado dentro do carro pequeno, e a brigar por um lugar ao ar-condicionado com o contrabaixo.

O Primo Contrabaixista do Campo, feliz com a visita para lá de inesperada, logo convida o recém-chegado primo cosmopolita para participar de um ensaio da orquestrinha local.

O Primo Contrabaixista da Cidade aceita o convite muito a contragosto, e vai ao ensaio com o primo, logo após um lanche horrorosamente saudável – com frutas do campo, da grama, da árvore e da moita-, e ainda suporta bravamente o exército de bocejos que o ataca incessantemente durante todo o ensaio. Como? Bocejando mesmo, ora!

Mais um dia no campo e outro ensaio maçante são suficientes para o Primo Contrabaixista da Cidade fazer sua trouxa acústica e eletrônica e botar as quatro rodas na estrada de volta ao lar-doce-lar contrabaixístico, não sem antes convidar o Primo Contrabaixista do Campo para passar uns dias na cidade.

Lá um dia, poucos dias depois, Primo Contrabaixista do Campo chega à casa do Primo Contrabaixista da Cidade, acompanhado do seu contrabaixo, dos seus chás, da sua alface fresquinha – mas não tanto-, trazendo até mesmo uma ripa de madeira recém-salva do trovão para – quem sabe? – o primo fazer um arco.

O Primo Contrabaixista da Cidade, após se refazer do susto de ver o Primo Contrabaixista do Campo aceitar um convite de mentirinha, e de revê-lo assim tão, tão de repente, não vê outra saída senão a de levar o primo para o ensaio de sua orquestra, que começará em uma hora …

Na ida, o Primo Contrabaixista da Cidade, para agradar o Primo Contrabaixista do Campo, resolve fazer mais uma média de mentirinha com o primo e bajulá-lo o quanto pode afinal, um talento assim tão digamos, campestre, precisa conhecer novos ares, novas orquestras …

Ele só não falou mais, porque tinha que sobrar espaço para que ele pudesse contar todas as vantagens sem desvantagens de ser um contrabaixista da cidade, com bons salários, bons empregos, contrabaixos maravilhosos, ótimos cachês, com as facilidades ilimitadas para se entrar para uma orquestra, etc, até que termina com uma pérola: “Vou falar com o maestro hoje mesmo, para você fazer um cachezinho básico lá na orquestra! Você precisa mudar de ares, e ver o que é uma orquestra de verdade! …”.

O Primo Contrabaixista do Campo fica tão empolgado com a possibilidade de ver de perto as tão sonhadas luzes da ribalta que, inocente coitado, acredita em tudo o que o primo fala, e o que é pior, ao chegar à orquestra, pega logo um contrabaixo que está abandonado nos bastidores do teatro, o leva para o palco, e põe-se a tocar nele na maior cara de pau interiorana.

O Primo Contrabaixista da Cidade não vê solução a não ser falar de verdade com o maestro sobre o seu maravilhoso primo contrabaixista, solista, concertista, camerista, recitalista, “professorista” renomado da cidade de … como é mesmo o nome?

O maestro concorda com a presença de tão ilustre contrabaixista para abrilhantar ainda mais a “melhor orquestra da cidade”.

Na hora do ensaio, o pobre Primo Contrabaixista do Campo é apresentado, de cara, a uma Sinfonia de Mahler, má o quê mesmo?

Perdido no meio de tantas notas, deslumbrado no meio de uma orquestra tão grande, e tocando qualquer coisa, menos o que está escrito, Primo Contrabaixista do Campo leva um susto sem tamanho quando o maestro para a orquestra para passar somente o naipe de contrabaixos, que está um horror!

Um silêncio acontece, seguido de uma roncadeira contrabaixística de um lado e de um contrabaixista atirando notas a esmo para todos os outros lados, em um autêntico e inacreditável festival de nota fora

Aí, o maestro para o naipe, e pede:

– Meu filho, quero ouvir só você!

Trêmulo de emoção com o pedido, o Primo Contrabaixista do Campo começa a tocar. Puum – puum – pum – pum – pum – pum, seis notas e ataca a música com voz sôfrega:

“Demorei muito prá te encontraaar …

Agora eu quero só vocêêê! …” ( * )

O maestro, enfurecido e vermelho de raiva, responde aos gritos:

– E eu quero você … Fora daqui!

– Êta, gente mais ingrata! Faço o que pedem e ainda me tratam assim! … Vou é me embora! …  Não há, ó gente, oh não, luar como aquele do meu campo! …

E, dizendo isso, sai resmungando e maldizendo a maldita orquestra da cidade, com seus salários altos, seus cachês maravilhosos, mas sem chegar aos pés da sua paz contrabaixística campestre!…

Moral da história:

Quer mudar de ares contrabaixísticos?

Às vezes, mais vale uma modesta vida contrabaixística com paz, sossego e oxigênio, que todo o luxo do mundo com preocupações, frustrações e muito gás carbônico orquestral…

 
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“A Surrealíssima Maria Gorda”

Quando resolvemos estudar contrabaixo e começamos a estudá-lo, muitas das vezes estamos vencendo uma batalha e começando outra.

Vencer os nossos próprios preconceitos de estudar um instrumento tão trambolhudo sem sabermos como será o futuro, ou mesmo de assumir a música como parte essencial da nossa vida, a despeito do que os nossos pais, cônjuges, filhos ou parentes acharão disso, ou mesmo passando por cima do que eles querem para nós, são algumas das lutas, entre muitas outras lutas, que talvez tenhamos tido para conseguir chegar perto de um contrabaixo e assumi-lo para nós mesmos e para o mundo.

Mas a maior batalha é a que ainda está por vir: continuar no contrabaixo, com todos os problemas que virão depois da nossa escolha.
Os problemas recorrentes são que nem vírus: voltam sempre piores e mais fortes…

Manter-se no contrabaixo é suportar a falta da grana que ainda não veio, mas que talvez – um dia – quem sabe venha.
É suportar as cobranças dos parentes, porque você só quer saber de música e não de trabalhar.
É suportar a insegurança de não saber se haverá mercado de trabalho que sustente as suas contas.
É ter medo da concorrência, principalmente quando se quer muito ser e estar contrabaixista, mas o tempo para estudar é dividido com um emprego, trabalho, família e/ou outros estudos.
É perceber a frustração nos olhos dos nossos pais ao verem nossos colegas e os filhos dos colegas deles escolherem profissões mais “promissoras”, ou sentir na alma a frustração dos nossos filhos pelos brinquedos que não poderemos dar ou pelas viagens que não poderemos fazer.
É não dormirmos direito com medo da nossa própria idade, ou termos insônia pelo complô de contas que podem nos sequestrar na calada da noite.
É não abrirmos o armário com medo do bicho-papão da falta de talento ou da falta de jeito para o contrabaixo, ou mesmo da hora de encerrar a carreira.
É convivermos com o pavor de estarmos errados e termos feito a escolha errada.

Muitas dessas angústias nem chegaremos a ter e outras nos acompanharão por toda a vida contrabaixística e por vidas não-contrabaixísticas também.
Portanto, você, eu, nós, nunca estaremos sozinhos nessas horas.

Posso dizer, pela minha vida contrabaixística, que consegui viver somente de contrabaixo até hoje, e lá se vão décadas.
Já foi mais fácil, mas ultimamente tem sido bem difícil.
Mas não posso me arrepender de não ter escolhido ser contrabaixista, ou seja, não posso me arrepender por não ter seguido o que quis.

Vejo muitos contrabaixistas preocupados com a sua própria idade e com medo de assumirem suas escolhas.
Tive um aluno com 66 anos de idade, e ele estava muito feliz por realizar um sonho: o sonho de estudar contrabaixo.

Hoje em dia, o estudo do contrabaixo para crianças e adolescentes está em franca expansão. Com isso, há cada vez mais contrabaixistas jovens e bons no mercado de trabalho.

Penso que o sonho de estudar contrabaixo ou de tocar contrabaixo é um sonho sem limites de idade.

Agora, tocar em uma orquestra profissional, por exemplo, ou de realizar aspirações mais avançadas como ser solista de orquestra ou ser professor de contrabaixo em uma universidade, dependerão muito do seu potencial no instrumento, do seu talento multifacetado para administrar a vida, e também do seu tempo de dedicação quase exclusiva ao contrabaixo, especialmente se você começar a estudá-lo a partir dos 22 anos, sem ter estudado nenhum outro instrumento antes.

Instrumento nessas horas é como um idioma: se você sabe mais de um instrumento ou mais de um idioma estrangeiro, você terá mais facilidade para os próximos e, no caso do contrabaixo, muito provavelmente também “queimará” algumas etapas do estudo do instrumento mais rápido que as pessoas que nunca tocaram um instrumento na vida.

Infelizmente, quando pensamos na dupla idade x profissão, temos que pensar no tempo de investimento no contrabaixo que faremos antes de começar a trabalhar com ele. Passar para uma orquestra profissional, e mesmo assim, mediante concurso, pode levar no mínimo cinco anos e em média oito anos, por exemplo.

Há opções que não exigem tanto tempo, como fazer concurso para tocar contrabaixo em bandas sinfônicas militares. O problema é que há exigência de idade para ingressar nos quadros militares, sem contar que a concorrência para esse tipo de serviço aumentou assustadoramente nos últimos anos.

Mas para tocar em casamentos e/ou shows com bandas, esse tempo é bem mais flexível: dois anos de estudo de contrabaixo bem estudados já são suficientes para você dar os primeiros passos, desde que não se acomode, porque aí a concorrência leva o seu lugar.

Não estou escrevendo que é para quem quer começar a estudar contrabaixo com 22 anos – ou mais -, desistir. Só você sabe é quem sabe se suportará esperar até os 27 ou 30 anos para concorrer à vaga na orquestra dos seus sonhos. É bom lembrar que o quadro de contrabaixistas pode estar completo por essa época. Isso sem contar que tem gente que não aguenta esperar nem dois anos, porque acha que tocar contrabaixo é só resolver hoje e dar recitais em dois meses.

Por isso, sou favorável a uma análise fria dos fatos. Se você chegar à conclusão de que é isso mesmo que você quer da sua vida, vá em frente!

Mas se as suas conclusões não forem tão precisas, e se o seu sonho contrabaixístico não se incomodar de ser adaptado, você poderá ter outro emprego ou outra profissão e fazer do contrabaixo um hobby e tocar numa orquestra amadora, por exemplo. Ou mesmo dar aulas em uma escola de música, ou dar aulas particulares, tocar em uma banda de shows ou em cerimônias de casamento, etc.
Com dedicação, você até poderá tocar contrabaixo em uma orquestra profissional que não esteja nos grandes centros urbanos.

Agora, para tudo isso você terá que ser tão ou mais forte do que quando resolveu peitar a vida e ser contrabaixista. Porque o contrabaixo e a Música não são para pessoas que vivem em dúvidas: são para pessoas que não se deixam sucumbir por elas, já que dúvidas todos nós temos, não é mesmo? O importante é o diferencial.

Árvore Maria Gorda (Imbondeiro) – África

Mas com 20 anos, eu ainda posso ser contrabaixista?
Na flor dessa idade, tudo ainda é possível, desde que se tenha objetivos, determinação, disposição para estudar, e autoestima suficiente para não esmorecer com a concorrência mais jovem e com a incerteza do futuro contrabaixístico.

E com 30 anos?
Na folha dessa idade, os sonhos profissionais com o contrabaixo são para serem vividos, mas com adaptações. Isso é possível, desde que você tenha consciência que a sua vida tomou muitos rumos e que o seu rumo com o contrabaixo é um caminho complementar. E ele será igualmente bonito, porque aprenderá a se dividir com os seus outros objetivos de vida.

E com 40 anos?
No caule dessa idade, muitos sonhos já se realizaram e o contrabaixo é agora mais um. Um sonho maduro, sensato e não um arroubo de juventude. Pode até ser a realização de um amor platônico pelo contrabaixo. Por que não? Esse é aquele amor que só quer ser sonhado e admirado, de pertinho, mas sem as cobranças dos grandes amores. Você, um banquinho e um contrabaixo em casa e a sua experiência de vida emoldurando o seu sonho contrabaixístico a se realizar tranquilamente.

E aos 50 ou 60 anos?
Nessa raiz da idade, estudar o contrabaixo é a realização da nostalgia de ser contrabaixista. É estar feliz por toda uma vida longe do contrabaixo, porque não há motivos para revoltas. É uma busca da fonte contrabaixística da juventude, daquela alegria serena que nos torna mais jovens, independente da idade real. É a alegria da alma!…

Portanto, penso que não há limite de idade para começar a estudar contrabaixo; os sonhos e objetivos com ele é que mudam ou precisam mudar…
Pois, como bem disse o famoso químico francês Antoine Lavoisier, “na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma…”

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Senyphine - Amarante ou les amours éperdues d'une femme-contrebasse

Era uma vez um rei e uma rainha que moravam num castelo muito distante, no Reino das Artes…

Quando a rainha deu à luz uma linda menina, o rei ficou tão feliz, que deu uma grande festa de batizado para a pequena princesa, chamada Aurora.
Todos os súditos foram convidados para a festa, e até mesmo doze fadas que moravam nos confins do reino foram chamadas para ser as convidadas de honra.

No dia da festa, cada uma das fadas chegou perto do berço em que dormia a princesa Aurora e ofereceu à recém-nascida um presente maravilhoso:
— Será a mais bela contrabaixista do reino! — disse a primeira fada, debruçando-se sobre o berço.
— E a de talento mais admirável! — acrescentou a segunda.
— Terá uma paciência infinda para estudar! — proclamou a terceira.
— Ninguém terá mais técnica do que ela! — afirmou a quarta.
— A sua inteligência brilhará como um sol! — comentou a quinta.

Onze fadas já tinham passado em frente ao berço e dado à pequena princesa um dom. Faltava somente uma delas, a mais jovem – que brincava com uma taça de sorvete -, quando uma décima terceira fada, que havia sido esquecida de ser convidada, adentrou o salão.
Com uma expressão sombria e ameaçadora, e terrivelmente ofendida por ter sido esquecida, ela chegou perto da princesa Aurora, que dormia tranquila, e disse:
– Aos dezoito anos, a princesa levará um tombo de uma escada bem alta com o contrabaixo e morrerá!
Foi embora, e um silêncio terrível entre os convidados se espalhou pelo ar, enquanto seus pais se desesperavam com tão cruel maldição.

Foi então que a décima segunda fada, que ainda iria oferecer seu presente à princesinha, se aproximou:
— Não posso cancelar a maldição que atingiu a princesa, mas tenho poderes para modificá-la um pouco!… Sendo assim, Aurora não morrerá. Ela dormirá por cem anos, até a chegada de um príncipe que a acordará com uma beijoca contrabaixística!

Como a maldição era a escada e não o contrabaixo, o rei logo tratou de fechar todos os acessos às escadas altas do palácio e do reino. A princesinha ficou – desde esse dia e por todos os outros de sua vida – proibida de subir qualquer escada alta em todo o reino.

Aurora crescia e o presente das fadas se concretizava: ela era a melhor e mais talentosa contrabaixista de todos os reinos! Ela passava horas estudando, e em poucos dias faria o seu primeiro concurso para tocar na orquestra do reino vizinho.

No dia em que completou dezoito anos, Aurora ouviu um som mágico de contrabaixo vindo do fundo do castelo. Curiosa em saber de onde vinha aquele som tão divino, ela acabou por descobrir uma escada bem alta, com uma ripa de madeira na entrada, para não permitir o acesso de crianças, mas ela já tinha dezoito anos, ora!

Ela pulou então a madeira, e subiu as escadas. Qual não foi a sua surpresa ao chegar ao topo da escada e ver um quarto, onde uma velhinha tocava divinamente um contrabaixo com som de sonho!…
– Que som maravilhoso, vovozinha!
– Leve o contrabaixo para você, minha querida! Ele é todo seu!

Aurora agradeceu entusiasmada, pegou o contrabaixo e desceu as escadas com ele, quando subitamente tropeçou e despencou escada abaixo com o contrabaixo, chegando desmaiada ao fim da escada…

A maldição do sono dos cem anos começara e se espalhou por todo o reino, que também caiu em sono profundo.

A partir desse dia, a história da bela contrabaixista adormecida e de seu reino adormecido se espalhou pelos reinos vizinhos até chegar a reinos muito distantes.

Muitos foram os príncipes e plebeus que se aventuraram a entrar no castelo escondido sob a mata alta, e nada conseguiram. Muitos foram os que morreram entre os espinhos…

No dia em que a maldição completou cem anos, um príncipe conseguiu entrar no castelo, se aproximar da bela contrabaixista adormecida e sapecar-lhe uma beijoca contrabaixística nas bochechas.

Aurora acorda imediatamente, dá um pulo e exclama:
– Meu Deus, o concurso para contrabaixista da orquestra do reino! Que dia é hoje?

O príncipe, ainda abobalhado e surpreso com um final de conto tão pouco romântico, responde:
– Concurso? Que concurso? Você passou anos dormindo, sem estudar contrabaixo e ainda quer participar de um concurso? A vaga já foi preenchida, fofa! Agora, só para o próximo, e se você dormir menos e estudar mais!…

Portanto, queridos, olho acordado na concorrência, porque o tempo passa…

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