Senyphine - Amarante ou les amours éperdues d'une femme-contrebasse

Era uma vez um rei e uma rainha que moravam num castelo muito distante, no Reino das Artes…

Quando a rainha deu à luz uma linda menina, o rei ficou tão feliz, que deu uma grande festa de batizado para a pequena princesa, chamada Aurora.
Todos os súditos foram convidados para a festa, e até mesmo doze fadas que moravam nos confins do reino foram chamadas para ser as convidadas de honra.

No dia da festa, cada uma das fadas chegou perto do berço em que dormia a princesa Aurora e ofereceu à recém-nascida um presente maravilhoso:
— Será a mais bela contrabaixista do reino! — disse a primeira fada, debruçando-se sobre o berço.
— E a de talento mais admirável! — acrescentou a segunda.
— Terá uma paciência infinda para estudar! — proclamou a terceira.
— Ninguém terá mais técnica do que ela! — afirmou a quarta.
— A sua inteligência brilhará como um sol! — comentou a quinta.

Onze fadas já tinham passado em frente ao berço e dado à pequena princesa um dom. Faltava somente uma delas, a mais jovem – que brincava com uma taça de sorvete -, quando uma décima terceira fada, que havia sido esquecida de ser convidada, adentrou o salão.
Com uma expressão sombria e ameaçadora, e terrivelmente ofendida por ter sido esquecida, ela chegou perto da princesa Aurora, que dormia tranquila, e disse:
– Aos dezoito anos, a princesa levará um tombo de uma escada bem alta com o contrabaixo e morrerá!
Foi embora, e um silêncio terrível entre os convidados se espalhou pelo ar, enquanto seus pais se desesperavam com tão cruel maldição.

Foi então que a décima segunda fada, que ainda iria oferecer seu presente à princesinha, se aproximou:
— Não posso cancelar a maldição que atingiu a princesa, mas tenho poderes para modificá-la um pouco!… Sendo assim, Aurora não morrerá. Ela dormirá por cem anos, até a chegada de um príncipe que a acordará com uma beijoca contrabaixística!

Como a maldição era a escada e não o contrabaixo, o rei logo tratou de fechar todos os acessos às escadas altas do palácio e do reino. A princesinha ficou – desde esse dia e por todos os outros de sua vida – proibida de subir qualquer escada alta em todo o reino.

Aurora crescia e o presente das fadas se concretizava: ela era a melhor e mais talentosa contrabaixista de todos os reinos! Ela passava horas estudando, e em poucos dias faria o seu primeiro concurso para tocar na orquestra do reino vizinho.

No dia em que completou dezoito anos, Aurora ouviu um som mágico de contrabaixo vindo do fundo do castelo. Curiosa em saber de onde vinha aquele som tão divino, ela acabou por descobrir uma escada bem alta, com uma ripa de madeira na entrada, para não permitir o acesso de crianças, mas ela já tinha dezoito anos, ora!

Ela pulou então a madeira, e subiu as escadas. Qual não foi a sua surpresa ao chegar ao topo da escada e ver um quarto, onde uma velhinha tocava divinamente um contrabaixo com som de sonho!…
– Que som maravilhoso, vovozinha!
– Leve o contrabaixo para você, minha querida! Ele é todo seu!

Aurora agradeceu entusiasmada, pegou o contrabaixo e desceu as escadas com ele, quando subitamente tropeçou e despencou escada abaixo com o contrabaixo, chegando desmaiada ao fim da escada…

A maldição do sono dos cem anos começara e se espalhou por todo o reino, que também caiu em sono profundo.

A partir desse dia, a história da bela contrabaixista adormecida e de seu reino adormecido se espalhou pelos reinos vizinhos até chegar a reinos muito distantes.

Muitos foram os príncipes e plebeus que se aventuraram a entrar no castelo escondido sob a mata alta, e nada conseguiram. Muitos foram os que morreram entre os espinhos…

No dia em que a maldição completou cem anos, um príncipe conseguiu entrar no castelo, se aproximar da bela contrabaixista adormecida e sapecar-lhe uma beijoca contrabaixística nas bochechas.

Aurora acorda imediatamente, dá um pulo e exclama:
– Meu Deus, o concurso para contrabaixista da orquestra do reino! Que dia é hoje?

O príncipe, ainda abobalhado e surpreso com um final de conto tão pouco romântico, responde:
– Concurso? Que concurso? Você passou anos dormindo, sem estudar contrabaixo e ainda quer participar de um concurso? A vaga já foi preenchida, fofa! Agora, só para o próximo, e se você dormir menos e estudar mais!…

Portanto, queridos, olho acordado na concorrência, porque o tempo passa…

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