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Nos instrumentos de cordas, posição é um pequeno grupo de notas musicais que fazemos com os dedos, sem precisar movimentar a mão para cima ou para baixo.
No contrabaixo, cada grupo de notas de uma mesma posição pode ter de três a quatro notas por corda.
Isso dependerá da técnica de dedilhado usada, se de três dedos (1-2-4 ou 1-3-4) ou de quatro dedos (1-2-3-4), e também da região do instrumento usada, porque na região aguda as posições são sempre com quatro notas (0-1-2-3).
As notas de uma mesma posição podem ser feitas sob uma mesma corda ou nas cordas paralelas, sendo que, para isso, é necessário que a mão esquerda se movimente para os lados.
Quando movimentamos a mão esquerda para cima ou para baixo, chamamos este movimento de mudança de posição.
A mudança de posição acontece sempre que precisamos tocar notas que não existem na posição em que estamos, ou tocar notas que existem na posição em que estamos, mas com outros dedos.
Uma mudança de posição feita de forma adequada evita que ouçamos sons do além entre as notas, e faz com que evitemos fazer da mão esquerda um trem-fantasma desgovernado, com acelerações e freadas bruscas.
Por mais que você dirija perigosamente a sua mão esquerda e sacoleje o seu trenzinho, os sons do além não vão embora, porque notas indefinidas adoram mão desorganizada.
Para entender como o trem anda, é preciso antes conhecê-lo parado. Só aí é que podemos tirá-lo do seu estado de inércia.
O mesmo ocorre com a mão esquerda: é preciso conhecer bem a sua mão parada para colocá-la em movimento de forma consciente.
Além dos dedos equidistantes – dentro dos padrões usados na técnica de dedilhado escolhida (1-2-4 ou 1-3-4 ou 1-2-3-4) -, é necessário distribuir o peso do corpo e da mão de forma igual sobre os dedos.
Ao distribuir o peso do corpo sobre a mão, isso faz com que esse peso vá para cada dedo, que o receberá de forma igual, mesmo que o seu dedo médio seja alto, forte e bonitão, e que o seu dedo mínimo seja tão raquítico, que você insista sempre em tratá-lo como um dedo diferente dos outros.
Excesso de mimo dá nisso: o dedo se comporta como o coitadinho, e está sempre se levantando quando não é chamado…
Quando se escorrega a mão, o braço vai junto. A mudança de posição não é feita somente com o dedo que sai de uma nota ou com o dedo que chega a outra nota.
Com o peso do corpo em cima de cada dedo, os bonitinhos não terão como fazer balé na hora do seu estudo. Peso pesa e dedo pesado não levanta à toa, gente!
Se a mudança será feita com o dedo 1, os outros dedos escorregam um pouco acima da corda, procurando mantê-los alinhados entre si, ou seja, enquanto o dedo 1 está escorregando sobre a corda, o dedo 2 não está sendo dublê de antena, nem o dedo 3 está tentando respirar e nem o dedo 4 fica pedindo socorro.
Sabe aquele ditado que diz que “enquanto um burro fala, o outro puxa a orelha”?
Pois é, enquanto um dedo toca, os outros ficam por perto, tentando ouvir.
Eles não mudam de lugar, só levantam um pouco, e esperam a vez de serem convocados de novo. Eles estão sempre pesados. Quando um dedo fica levantado ou sai do lugar de onde deveria estar, é porque está sem o peso do corpo para mantê-lo ligeiramente curvado e sem tensionamento.
Daí, a importância de fazer uma mudança de posição com a mão relaxada.
Mudança de posição com a mão dura deixa os dedos “assustados”, e dedos assustados são imprevisíveis: tanto podem atrasar a emissão da próxima nota, como podem nem mesmo conseguir chegar nela.
Mudança de posição feita com aceleração brusca de saída e freada brusca de chegada, resulta em uma mudança sem preparação, feita muito em cima da hora.
E essa variante de velocidade costuma ser audível, especialmente se vier acompanhada de acelerações com o arco. Isso faz com que cada mudança de nota venha com um “crescendo” no fim da nota que vai mudar e outro no fim da nota que mudou. Um horror!
A mão esquerda anda sempre à frente do arco. Por isso, as mudanças de posição devem ser feitas de forma equilibrada, antecipada e tranquila: quando o arco muda de direção, a mudança de posição já aconteceu fração de segundo antes. Ela não acontece ao mesmo tempo, para que os sons do além não sejam mais audíveis.
O contrabaixo é um instrumento grande, grave e, para muitos, grotesco. Notas claras e precisas favorecem a compreensão e a expressão musical, e ajudam a diminuir o preconceito com o instrumento que, por si só, já assusta muita gente.
Não precisamos fazer dele um ator de filme de terror musical, com sons esquisitos, mãos estranhas, etc.
Lembre-se de que no futuro, só quem se divertirá com esse seu trem-fantasma são os outros, contrabaixistas ou não.

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Na calada do dia ou da noite, você se tranca com o contrabaixo no quarto para estudar e coisas estranhas começam a acontecer: aquela mão esquerda que você achava linda e dócil some, para dar lugar a um monstro duro e ossudo a cada vez que você encosta no contrabaixo…
Por mais que você estude e leia métodos, nada de achar o antídoto!…
Para evitar que a sua linda mão esquerda de repente vire monstro no contrabaixo, é importantíssimo aprender a diferenciar o uso da força, do uso de peso do corpo.
Gostaria antes de esclarecer que a força tratada neste texto é aquela em que você acrescenta esforço físico para pressionar as cordas do contrabaixo, e causa tensionamentos e/ou dor, tanto durante a ação, quanto após a mesma.
Essa força necessita do peso do corpo para exercer sua ação sobre as cordas, para pressionar as cordas. O peso do corpo não necessita de força para exercer sua ação sobre as cordas (pressionar as cordas), e é esse peso que utilizamos para tocar o contrabaixo.
Faça um pequeno teste para sentir a diferença entre peso e força: chegue agora a sua mão esquerda para a beirada da sua mesa do computador e deixe-a com a palma da mão voltada para a mesa, como se ela fosse uma tartaruga a observar a vida. Não precisa chapá-la na mesa. Deixe o cotovelo bem solto, próximo a seu corpo.
Agora, aproxime a sua mão direita da sua tartaruga feita de mão esquerda e faça-a pular em cima da sua mão direita, ou seja, jogue-a em cima dela, mantendo-a tão descansada a observar a vida como estava antes.
O nome disso que deixa a sua mão tranquila tanto em cima da mesa, quanto em cima da outra mão, se chama peso do corpo, e não força bruta.
Se você quiser, aproveite para levantar cada dedo da mão esquerda com a mão direita. Você pode aproveitar também para afastar um pouco os dedos para os lados, pois você precisará disso mais tarde.
Com isso, pode até parecer que os dedos estão leves demais, mas esse peso é mais do que suficiente para pressionar uma corda, ainda mais depois que você passar a utilizar todo o peso do braço de forma mais completa, junto com o peso do corpo para fazer isso.
O peso do seu corpo só necessita da ajuda de uma força para pressionar as cordas: a da gravidade.
Agora, a sua mão vai “acordar” e passará de tartaruga a monstro: faça força com ela em direção à mesa. Para piorar o quadro, e ficar mais parecido com o uso da força no contrabaixo, passe o polegar para baixo da mesa e “segure” a mesa com força. Relaxe e lembre-se da tartaruga novamente. Intercale mais uma vez as duas fases da mão, antes de passar para o contrabaixo.
Tente fazer com que a sua mão no contrabaixo consiga observar a vida em cima da primeira corda (sol), porque ela é a mais fina e combina melhor com uma tartaruga.
Não tem problema se os dedos ficarem grudados uns nos outros como arroz empapado. O que importa agora é entender a diferença entre a pressão exercida pelo uso do peso do corpo e a pressão exercida com o uso da força. Depois, você procura a perfeição. Até a rima vem antes disso.
Depois de relaxar bem a mão esquerda, faça-a virar monstro e pressione-a em direção à corda, se possível com uma força média, para não se machucar. Aí, passe o polegar para baixo do braço e agarre o braço. Relaxe e lembre-se do paraíso das tartarugas, praia, sol, mar, férias e coloque a mão de novo no contrabaixo. Intercale as duas fases uma ou mais vezes, até você entender bem a diferença entre postura com o uso do peso e a postura com o uso da força.
Depois que você tiver fixado bem essa diferença, é hora de manter a mão esquerda na corda gradativamente, procurando sempre aumentar o tempo da mão relaxada e diminuir o tempo de mão tensa.
Comece fazendo isso por dois segundos. Relaxe e recomece por mais dois segundos. Faça uma série com quatro repetições de dois segundos. Relaxe por 2 minutos e recomece a série com quatro repetições de três segundos. Só volte a repetir estas séries no seu próximo turno de estudo (manhã- tarde- noite).
Faça estes exercícios por uns três dias e daí, passe a fazer uma série com quatro repetições de três segundos e depois para a série com quatro repetições de quatro segundos.
Quando a mão estiver “nos trinques”, é hora de afastar os dedos e adaptar a forma da mão a uma das técnicas de dedilhado (1-2-4 ou 1-3-4 ou 1-2-3-4), lembrando que o peso do corpo sobre o contrabaixo continua o mesmo, o relaxamento da mão continua o mesmo, e que a única coisa que muda é o afastamento dos dedos, que você já fez lá trás – na época que a sua mão ainda era uma tartaruga-, e viu que não precisava tensionar nada ao mexer nas “patinhas” da sua tartaruga. Continue sempre assim.
E aí descobrimos que o antídoto para a sua história do contrabaixista e o monstro é a conscientização sobre o uso do peso e da força, e muita ginástica anti-monstro para a mão esquerda ficar forte… e relaxada!

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Um dia, o contrabaixista Lebre encontrou o contrabaixista Tartaruga num ensaio, e aproveitou para implicar o quanto pode com o seu passo lento e seu jeito disciplinado de encarar a vida contrabaixística.
– Mesmo sendo tu quase tão veloz quanto um violinista estabanado, ainda vou ganhar-te num concurso! – respondeu o contrabaixista Tartaruga pacientemente.
O contrabaixista Lebre, pensando que tal era impossível, aceitou o desafio.
Como havia um concurso para uma orquestra em andamento, combinaram então que ambos se inscreveriam nele.
No dia combinado do concurso, os dois se encontraram com o pianista acompanhador e partiram para a performance.
O contrabaixista Tartaruga começou a tocar uma música não tão rápida e de forma equilibrada, nunca parando pelo caminho, até o fim da partitura.
O contrabaixista Lebre largou desembestado numa música virtuosística, perdeu o tempo da música, trocou o ritmo, tropeçou, embolou as notas, até que parou no meio execução para procurar pelo pianista, que tinha ficado lá no meio do caminho…
Quando voltou a tocar, recomeçou a correr o mais rapidamente que pode, para recuperar o tempo que ele achava ter perdido. 
Mas já era tarde… 
Na hora do resultado, o contrabaixista Lebre soube que o contrabaixista Tartaruga tinha ganhado o concurso e que já estava a descansar confortavelmente sobre os elogios e apupos da banca e do público.
Moral da história:
Devagar, mas com persistência, continuará os estudos contrabaixísticos e a Música, e terá a chance de fazer boas escolhas contrabaixísticas.
Esta fábula contrabaixística é baseada num fato real, que presenciei durante um curso dado pelo grande contrabaixista italiano Franco Petracchi, aqui no Brasil.
Nele, quase todos os contrabaixistas executantes optaram por tocar peças difíceis.
Ao fim do curso, Petracchi comentou que os contrabaixistas deveriam escolher peças adequadas ao seu nível no instrumento, para evitar perda de tempo.

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Nem todos os contrabaixistas têm a sorte de conseguir um contrabaixo bom para tocar e/ou estudar.
A qualidade dos instrumentos é tão diversificada, que alguns contrabaixos até se dão ao luxo (?) de ser chamados mimosamente de “caixotinhos de bacalhau”…
O amor é lindo, não é mesmo?

Mas, mesmo sendo o talvez-não-tão-feliz proprietário de uma preciosidade dessas, pense que pelo menos você tem um contrabaixo, enquanto muitos aspirantes a contrabaixistas -e até mesmo alguns contrabaixistas-, sequer têm um, valendo-se de sonhos ou de instrumentos emprestados enquanto a cegonha contrabaixística não os visita.

Parafraseando um antigo ministro que dizia que o “cachorro também era um ser humano como outro qualquer” (ou algo do tipo), podemos dizer que até os caixotes de bacalhau também são instrumentos e, por isso, merecem cuidados, mesmo quando destituídos de atrativos.

Por mais esdrúxulo que possa parecer, contrabaixos também são instrumentos frágeis e delicados.

Assim como no famoso filme de faroeste Shane, de George Stevens, Os Brutos também Amam, na nossa vida contrabaixística os “brutos” também são – e devem ser- amados… Bem amados, please!

Mas para que esse amor não termine em tragédia operística, gostaria de passar para você alguns cuidaditos básicos bem democráticos, que servem para tanto para contrabaixos, quanto para contrabaixistas, feios ou bonitos, bons ou péssimos.

Quando se fala em cuidados, um dos primeiros quesitos são os tombos.
Tombos são uma questão de física, de muita sorte e de alguns cuidados.

De um modo geral, o tampo do instrumento (parte da frente) é uma parte delicadíssima, e tombos em que o contrabaixo se estabaca com o cavalete voltado para o chão, ou quando algo atravessa o tampo do instrumento, costumam causar grandes avarias a ele, muitas delas irreversíveis.
Às vezes, o estrago é tão grande que a solução é trocar o tampo do instrumento, e nem sempre compensa fazer isso, financeiramente falando.
Em outros casos, trocar por um tampo do mesmo nível do original sai tão caro, que não tem como fazer o serviço com esse nível de exigência…

Instrumentos de madeira são mais resistentes ao tempo que os de compensado.

Aqui vão uns cuidadinhos básicos, quase um segredinho de beleza para o seu contrabaixo:

Evite deixar o contrabaixo no chão; apoie o bonitinho no canto da parede (quina), com o cavalete voltado para a parede; com os “ombrinhos” apoiados nas paredes; com os “quadris” um pouco afastados das paredes; e com o braço alinhado exatamente na linha entre as duas paredes. Ele ficará ligeiramente inclinado para frente, ou seja, com os “ombrinhos” mais próximos da parede e com os “quadris” um tico mais distantes dela.

Cuidados durante as apresentações: evite deixar o seu lindo no chão.
Se não houver jeito, proteja as laterais dele com uns caquinhos de madeira ou pedacinhos de borracha, para que a madeira não fique em contato direto com o chão, porque o verniz vai embora com isso. Contrabaixo não é enceradeira.

Outra coisita: fivelas de cintos costumam arranhar todo o verniz do instrumento. Vire a fivela para o lado, ou ponha um pano sobre ela ou vá sem cinto. Pense que, se a calça cair, o contrabaixo te protegerá, ou te dará a chance de encarar – de frente – uma grande performance!…

Se você foi apoiar o fofinho na cadeira, veja se ela é segura, e se ele está com o “C” – aquela curvinha que fica entre o “ombrinho” e o “quadril”- bem assentada na cadeira.
Avente a possibilidade que ele pode escorregar e cair.
Pense que não é só você que escorrega na poltrona comendo batata frita na frente da televisão, e que contrabaixos não precisam nem de batata frita para isso: só do seu descuido.

Se você for mesmo colocá-lo no chão, eleja um local menos movimentado para isso, ou seja, com o cavalete voltado para uma parede, com o espigão protegido de pernas cegas, e com uma boa quantidade do fio da captação por perto, pois caso algum imbecil resolva tropeçar no fio, ainda há uma margem de fio antes dele levar o seu contrabaixo junto.

E NUNCA deixe o contrabaixo apoiado num banco de contrabaixo, daqueles altos.
Alguns palcos mais assanhados sacodem até com os passos das pessoas, e alguns pisos são tronchos.
Para você não ficar na neura de pedir para passarem com cuidado perto do seu contrabaixo que a-do-ra ficar sentado no seu lugar enquanto você não está, ou de ficar verificando o caimento do palco, adote a mania de deixá-lo em locais mais seguros.

Sabe aquele ditado que diz que “para morrer, basta estar vivo”?
Pois é, para o contrabaixo morrer basta estar em qualquer lugar, porque em pé ele pode cair, sentado ele pode cair e deitado ele também pode cair, se aquele estúpido tropeçar nele…

Essa é uma dica especial para as moçoilas contrabaixistas: cuidado com o trio sertanejo Contrabaixo, Saia Comprida & Escada. E processem o empresário que quiser fazer um quarteto com o Salto Alto…
Agora, se não der para terceirizar o serviço de subir escadas com o contrabaixo, bem acompanhado da Dona Saia Comprida e do Seu Salto Alto, dê um charmoso nó na sua saia, na altura dos joelhos.
É melhor arranjar um nó na saia do que arranhões no joelhinho tímido e escoriações no contrabaixo dublê de avião…

Afora tombos e arranhões, aqui vai mais uma dica: capas de material sintético são ótimas para fazer churrasquinho de contrabaixo. Basta um cigarrinho por perto, ok?

Contrabaixos também sofrem de hidrofobia: a madeira molhada e/ ou a umidade podem descolar o instrumento, empená-lo e… desvalorizá-lo, ou fazer você gastar dinheiro para tratar do “resfriado” adquirido no quase inocente banhinho.

Para quase terminar, a resistência física do instrumento depende mais do material que ele foi feito, da construção dele e do cuidado que se tem com ele, do que do tamanho.

Nem todos os contrabaixistas têm a sorte de conseguir um contrabaixo bom para tocar e/ou estudar, mas o inverso também é verdadeiro: nem todo contrabaixo tem a sorte de conseguir um contrabaixista cuidadoso que o toque e/ou estude…

E para terminar de vez, desculpem-me a sinceridade, mas acho que esses trogloditas que pisam no contrabaixo – e de sapatos!- com a pretensão de fazer disso música, deveriam sempre levar um bom tombo na hora das apresentações, daqueles de quebrar braço e perna, até pararem de torturar um pobre e inocente contrabaixo, que só veio ao mundo para fazer… música!

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Depois de ser chamado pela enésima vez para mais um concerto em cima da hora, um contrabaixista se lembra da história da Galinha Ruiva…

Nela, a Galinha Ruiva resolve plantar um grãozinho de milho e, para isso, pergunta a seus amigos Porco, Gato e Pata, se algum deles gostaria de ajudá-la, mas nenhum deles quer. Ela então planta o milho sozinha.

Depois que o milho fica maduro, ela resolve colhê-lo e, mais uma vez, pede a ajuda dos amigos e, novamente, ninguém se manifesta. Ela vai colhê-lo sozinha.

Na hora de debulhar o milho, a mesma pergunta e as mesmas respostas e, mais uma vez, ela faz tudo sozinha.

Por fim, ela resolve fazer um bolo de milho e, depois dele pronto e cheiroso, pergunta se alguém quer ajudá-la a comê-lo, e todos correm para auxiliá-la nessa difícil tarefa.
Aí, ela resolve comer tudo somente com seus pintinhos, já que ninguém a ajudou em nada quando ela precisou…

Agora, vamos à outra historinha…
Era uma vez, um dia muito noite na casa de um contrabaixista, quando o telefone toca…
Do outro lado da linha está um(a) maestro (maestrina) necessitando com urgência urgentíssima de um contrabaixista para um concerto num palácio, quatro dias depois, com também quatro ensaios, incluindo sábado e domingo. Delícia!

Na hora dos detalhes, falta o detalhe principal: o cachê, mas o Maestro (Maestrina) diz que ele só aparecerá após a aprovação de um projeto mágico seu de orquestra…

Mais uma vez, o Contrabaixista escuta aquelas famosas frases do “estamos sem cachê para esse concerto”, do “primeiro concerto para um projeto de uma futura nova orquestra”, etc.

E aí vem a pergunta que ninguém quer ouvir nessas horas: “você poderia me ajudar?”.

Só então o Contrabaixista se dá conta de que já ouviu história semelhante antes, e se lembra, de imediato, da historinha da Galinha Ruiva, mas é interrompido pelo(a) Maestro (Maestrina), que aparece com mais um detalhe: o contrabaixista Porco, o contrabaixista Gato e a contrabaixista Pata, que fariam o concerto, não poderão mais, por causa de “outros compromissos profissionais”.

O Contrabaixista fica comovido com tão triste situação e, quase às lágrimas, aceita ajudar a Galinha Ruiva Maestro (Maestrina).

Como o Contrabaixista não tem uma fada madrinha para transformar abóboras e ratos em carruagem, a Galinha Ruiva então se compromete a trazer e levar o Contrabaixista e seu imenso instrumento de carro, a cada ensaio e concerto, pois o Contrabaixista pode ser até bobo de tocar de graça, mas nunquinha de gastar suas próprias moedas de ouro com a carruagem que o levará aos ensaios e ao concerto no palácio…

O Contrabaixista volta a se lembrar da história da Galinha Ruiva e sonha com um grand finale diferente para ela, com muitos músicos ajudando a fazer os concertos, e até com os quem sabe- talvez- possíveis ovos de ouro do projeto da orquestra.

Depois de beber uma boa dose de bom senso retardado, ele corre para o telefone e, um telefonema aqui e outro acolá, descobre com o Contrabaixista Gato que a tal orquestra é um horror, que a tal Galinha Ruiva Maestro (Maestrina) é completamente inexperiente, que os contrabaixistas Porco, Gato e Pata amarelaram por motivos profissionais e não por compromissos profissionais, e que o tal concerto será uma grande roubada…

Na história da Galinha Ruiva há um grande diferencial para o sucesso de todo o serviço e do bolo de milho: ela sabia fazê-los sozinha, e bem.

Na vida real, precisamos nos comportar como os antagonistas deste conto infantil, ou seja: esperar que os projetos de orquestra estejam prontos, aprovados, assados, cheirosos e com os todos os recursos disponíveis quando chegam até nós.

E, ao transformarmos esse conto infantil em fábula contrabaixística, aprendemos que a receita do bolo é uma só: cada um fazer bem só a sua função, lembrando que é mais fácil achar contrabaixistas bons do que maestros (maestrinas) idem.

É importante também saber previamente alguns detalhes do projeto mágico como, por exemplo, se a Galinha Ruiva sabe o que é um milho, pois qualquer que seja o projeto, ele tem que ter uma Galinha Ruiva competente e experiente à frente dele ou, do contrário, não vingará. E tem que ter consistência no que nos é oferecido… Bolo de milho precisa de milho e fermento…

Mas, se com o projeto aprovado e o cachê no bolso, depois o projeto não passar de um concerto, pelo menos não plantamos o milho de graça e ainda podemos comer várias fatias de bolo com o cachê…
E o contrabaixista foi tão feliz para sempre, que nem conto!…

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Muitas cidades oferecem cursos de Música gratuitos, alguns vinculados ao governo, outros a ONGs, etc.
Acho a iniciativa muito válida, pois são oferecidas aulas de música e/ou instrumentos para pessoas que não podem pagar pelos estudos musicais. Muitas das vezes, além das aulas, são emprestados instrumentos para que os alunos possam estudar na própria escola e/ou em casa, e acelerar seu desenvolvimento.
O que não concordo é com o descaso de algumas dessas entidades, que oferecem cursos de contrabaixo com professores não-contrabaixistas, ou que oferecem prática orquestral e o contrabaixo para os contrabaixistas, sem oferecer também aulas de contrabaixo para que o aluno se desenvolva a contento.
Os projetos sociais que envolvem música têm patrocinadores. 
Patrocínios estão associados à prestação de contas, troca de favores e mostra de serviço.
Quando o vínculo é com o governo, por exemplo, tocar em cerimônias e eventos políticos são plausíveis de acontecer, assim como as apresentações para membros do governo também são. 
Patrocínios culturais envolvem retorno e visibilidade.
Para representar melhor projetos musicais vinculados ao ensino instrumental, nada mais adequado que uma orquestra, ainda mais se a orquestra em questão for formada por crianças e jovens, pois tudo que envolve o talento infantil ou juvenil tem um apelo social muito intenso e sugestivo.
Se os jovens forem carentes, o apelo social é mais representativo ainda.
Logicamente que, afastar crianças e jovens carentes do resultado maléfico das drogas e/ou oferecer uma oportunidade de estudo e melhoria cultural e/ou uma proposta de investimento no potencial desses artistas, objetivando o ingresso deles no mercado de trabalho – ao mesmo tempo em que afasta o fantasma do desemprego e da violência-, são propostas maravilhosas.  
Muitos cursos de Música gratuitos têm trabalhos ótimos, mas acho um absurdo que muitos deles releguem o ensino do contrabaixo a terceiro plano, seja por priorizar quase que exclusivamente os instrumentos mais melodiosos e/ou com mais chances de aparecer na mídia e/ou de agradar mais os patrocinadores; seja porque a procura pelo contrabaixo é menor que para os outros instrumentos; seja para justificar as verbas investidas no projeto com muitos instrumentos de valor mais acessível, ao invés de poucos com valor mais alto, já que na hora de “mostrar serviço”, uma escola de música ou uma orquestra com 20 violinistas e um contrabaixo costuma ter muito mais visibilidade do que uma escola com poucos violinistas e 4 contrabaixistas, por exemplo.
A preferência dos estudantes por instrumentos mais agudos (violino, cavaquinho, flauta, trompete) pode bem ser um fator cultural – violinos estão presentes em nossa cultura através dos mouros, portugueses e espanhóis; o trompete sempre esteve presente em bandas; e a flauta e o cavaquinho sempre acompanharam o desenvolvimento da música popular.
Mas a preferência por instrumentos mais agudos também pode ser um fator econômico – instrumentos menores, além de mais agudos, costumam ser menos caros-, mas nada disso justifica as escolas não oferecerem o mesmo tipo de oportunidade às pessoas que querem estudar contrabaixo.
Muito embora o contrabaixo seja um instrumento em franco desenvolvimento, e que o nível dos contrabaixistas esteja cada vez melhor, não podemos negar as conseqüências de séculos de defasagem técnica do contrabaixo em relação a outros instrumentos. Enquanto no século XVI a técnica do violino já estava desenvolvida, a do contrabaixo ainda engatinhava, entre afinações indefinidas, tamanhos diversos do instrumento, número de cordas variados, e a uma possível dificuldade de deslocamento com o instrumento e uma conseqüente dificuldade de troca de experiências entre os contrabaixistas de localidades distantes.
Mesmo com todos os esforços contrabaixísticos para que o instrumento apareça mais – e bem -, tanto nas orquestras, quanto como instrumento solista, ainda há uma relutância cultural entre as pessoas em reconhecer esses esforços. Essa relutância é natural e decrescente frente às modificações históricas e técnicas do instrumento, mas ainda é também pouco digerida por nós, contrabaixistas.
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Sei que existem cursos de música em locais onde não há sequer um contrabaixista em muitos hectares. Penso que esse é um dos poucos casos “aceitáveis” de professores genéricos de contrabaixo, já que a contratação de um professor de contrabaixo exclusivo para pouquíssimos alunos envolveria um deslocamento grande e muitos gastos, na maioria das vezes, impossíveis de serem viabilizados com os escassos recursos de projetos modestos.
O que me aborrece são os cursos de música que, mesmo situados em grandes metrópoles ou bem próximos a elas, ainda insistem na velha fórmula de contratar professores de outros instrumentos para ministrar aulas de contrabaixo, sem ao menos tentar contratar um contrabaixista, professor de contrabaixo.
Existem muitos professores genéricos de contrabaixo, que podem ser excelentes violinistas, violistas, violoncelistas, trombonistas e tubistas mas que, como contrabaixistas, continuam sendo excelentes violinistas, violistas, violoncelistas, trombonistas e tubistas e só…

Outra coisa que me veio à mente é pensar no que faz um professor que não é de contrabaixo aceitar dar aulas de um instrumento que pensa haver alguma semelhança com o seu.
Em locais sem um contrabaixista a raios de distância, talvez isso possa até ser encarado como uma caridade e uma quase resistência cultural, já que o contrabaixo será apresentado a pessoas que sequer teriam a chance de conhecê-lo, se não fosse o projeto de música com seu professor genérico de contrabaixo.
Agora, não contratarem professor de contrabaixo em locais com dezenas de contrabaixistas pelas cercanias – muitos deles esperando por uma chance no mercado de trabalho -, para contratar um professor de contrabaixo genérico, além desconhecimento dos organizadores do projeto, isso também demonstra, no mínimo, o total desrespeito do professor genérico para com o colega contrabaixista de formação, que mereceria estar em seu próprio lugar.
Nas metrópoles, quando o projeto musical fica sem professor de contrabaixo repentinamente, “deslocar” um professor de outro instrumento para dar algumas poucas aulas até a chegada de outro professor de contrabaixo é um “quebra-galho” viável, desde que haja uma real movimentação da organização do projeto em arranjar logo o profissional, antes que todos se acomodem com a situação.
Mas, na impossibilidade de arranjar o professor de contrabaixo, penso que o curso deve ser interrompido.

Sem professor de contrabaixo, muitos jovens contrabaixistas estão com má-postura ao contrabaixo, muitos vícios no instrumento e… muitas dores pelo corpo.

Sei que quando se é jovem, muita coisa é passada por cima, no melhor modelito do “deixa assim”.
Só que a sua juventude, um dia será velhice e se você não se cuidar, a sua velhice ou mezzo-velhice será cheia de problemas de saúde.

Problemas de saúde (tendinites, bursites, dores de coluna, etc), advindos de uma má orientação ou de um estudo mal-direcionado (e/ou de irresponsabilidades de um modo geral), podem aparecer em qualquer instrumentista mas, ao estudar com um leigo no contrabaixo, as chances desses problemas aparecerem – e precocemente -, aumentam consideravelmente.

Penso que um mínimo de conforto e de responsabilidade são essenciais para todos os instrumentistas: instrumento regulado, macio e pequeno, cordas novas e macias, arco com crina razoável, uma boa resina, estante de música, banco confortável e uma boa iluminação no local de estudo e/ou trabalho. E um professor do próprio instrumento com experiência nisso e/ou com um currículo digno do cargo.

Contrabaixos chineses estão, na maioria das vezes, longe de ter uma qualidade fantástica, mas muitos são até bons para estudo, vêm com arco e capa e têm um valor bem acessível para projetos sociais.
Cordas tradicionais podem até ser caras, mas o custo-benefício compensa: melhor qualidade sonora e maior durabilidade. Embora não sendo o recomendável, essas cordas podem durar muitos anos. As cordas que vêm nos instrumentos chineses costumam ser de péssima qualidade: podem arrebentar, além de não segurarem a afinação corretamente.
O mesmo acontece com a resina (breu): gasta-se um pouco mais com uma tradicional, mas a durabilidade é de muitos anos.
O banco, a estante e a iluminação são baratos.
Atualmente, podemos calcular um gasto médio de R$ 3.500,00 (aproximadamente seis salários mínimos) para a compra de todo o material necessário para iniciar um curso de contrabaixo, incluindo a regulagem do cavalete.
Se o contrabaixo e o arco forem bem cuidados (sem tombos, batidas, banhos de sol, etc), assim como o restante do material, não há necessidade de manutenções freqüentes e nem de reposições. A troca das cordas e a troca da crina do arco podem ser feitas até de três em três anos (ou mais, embora o recomendável seja em menos tempo).
Voltando ao assunto inicial, não vou entrar nos méritos dos projetos sociais de Música, porque muitos têm trabalhos ótimos, mas acho um absurdo que alguns menosprezem o ensino do contrabaixo e o releguem a terceiro plano, seja porque o que importa são os outros instrumentos, seja porque o contrabaixo só precisa fazer pum-pum-pum e, para fazer pum-pum-pum, não precisa gastar dinheiro com um professor de contrabaixo. 
Com isso, os professores de outros instrumentos – que não podem fazer pum-pum-pum no seu próprio instrumento -, acabam dando aulas de contrabaixo, e fazendo muito pum-pum-pum com a saúde e a técnica dos alunos contrabaixistas.

Procure sempre se informar sobre os profissionais que darão aulas no curso de contrabaixo que você tanto quer fazer. Se não tiver um professor de contrabaixo original, desconfie do curso!
Se você resolver embarcar nessa mesmo assim, embarque consciente de que você estará sendo cúmplice de um crime executado por uma quadrilha formada pelos irresponsáveis pela organização e realização do projeto musical, junto do irresponsável do tal professor genérico, que atuará como falso contrabaixista.
Não é porque você é pobre, ou porque não tem dinheiro suficiente para pagar um curso de música, que você é obrigado a aceitar esmolas musicais.
O barato pode sair bem caro, e a próxima vítima das dores contrabaixísticas pode ser você… 

Portanto, sempre que possível, evite remédios contrabaixísticos falsificados…

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Vibrato é a delicada oscilação sonora feita com o dedo se movimentando um pouco para lá e pouco para cá, sem escorregá-lo do lugar em que ele está.

A grosso modo, é como se o dedo ficasse um pouco nervoso e saísse distribuindo “cotoveladas” em quem tentasse se aproximar dele.

Como contrabaixistas educadinhos que somos, não podemos distribuir “cotoveladas” em tudo e todos os sons que aparecem pela nossa frente.

Se você quer “brigar” sempre com as notas, que o faça com estratégia e objetivos, pois o vibrato deve ser usado como recurso expressivo e não como recurso de afinação.

Quando o vibrato deixa de ser um recurso expressivo, alguns probleminhas podem surgir…

Por exemplo: de nada adianta você passar a sua vida contrabaixística errando a pontaria dos intervalos, para ajustá-los com aquela tremidinha nervosa que você acha que é um vibrato e, principalmente, que você acha que é o super vibrato que pode livrá-lo também da desafinação.

De tanto você fazer isso, você passará não só a ser um contrabaixista que vive fazendo ajustes de afinação, como seu vibrato deixará de ser algo bonito e expressivo para virar um disfarce de seu estudo mal direcionado.

Escalas e intervalos costumam ser estudados sem vibrato, para que fiquem mais precisos. Depois que a “precisão” aparece com mais freqüência, você pode acrescentar pitadas de vibrato a gosto.

Um bom estudo para a “pontaria” é escorregar os dedos da mão esquerda em direção à nota com um metrônomo e fazer um acento com o arco na nota almejada assim que o dedo chega nela.
Dessa forma, as notas não sofrem “ajustes”. Você vai ouvir o som da nota sem vibrato.

Estava desafinada? Volte 5, 10, 50 vezes até acertar a fofa, sem se esquecer de pensar no movimento, na nota desejada e na distância a ser percorrida.

Só evite repetir a nota errada por mais de cinco vezes seguidas sem dar uma parada básica para pensar, porque senão o seu cérebro passará a achar que aquele foi o caminho certo. Explicando melhor: se você for repetir o movimento 20 vezes, não se esqueça de que o bom senso é múltiplo de cinco, certo?

Voltando à notinha “esquisita”, você desafinou bonito e, para compensar essa falha “mecânica”, o que você faz?
Enfia a droga do vibrato na nota assim que consegue captar a desafinação, e com ele escorrega o dedo até a nota ficar certa.

Com o tempo, além do seu cérebro achar que o intervalo errado é o certo, ele também passará a achar que aquele vibrato salvador da sua desafinação faz parte do processo.
Simples, não é? Você passará a tocar desafinado e com um vibrato para afinar.

Aí, a qualidade do vibrato também passará a ficar comprometida. Afinal, ele foi chamado para ser o galã da sua música e você o torna um reles coadjuvante de afinação!…
Lógico que ele vai se revoltar com esse papel ridículo, passará a ficar cada vez mais agressivo e passará também a distribuir “cotoveladas” nas notas cada vez mais rápidas.

Você não perceberá, mas um dia alguém descobrirá para você que o seu galã virou um carneiro…

Mais à frente, alguns vibratos se revoltam de outra forma: de tanto serem obrigados a consertar a desafinação do contrabaixista como um tique nervoso, eles entram em estado de choque e param de acontecer.

A partir disso, eles passam a apresentar o tal do tique nervoso no início da nota e mais nada!…
Até o vibrato surta, gente!

Com o tempo, a mão esquerda também fica dura e aí, o galã que virou um carneiro, se transformou num carneiro de um mé só: méee de méeerda de mão esquerda!

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Quase todo começar a fazer alguma coisa tem seu lado bom e seu lado ruim, ainda mais quando esse começo implica em estudo.
Se até para namorar a gente tem que “estudar”, aprender a conhecer o outro, na Música isso não é diferente: estudar um instrumento muitas das vezes pode ser encarado como um namoro sério, e isso torna o caso peculiar, exótico e esquisito, quase uma doença crônica.
Quando a gente resolve tocar contrabaixo, as pessoas estranham no início, e depois começam a se conformar com a idéia, mas só param mesmo de implicar, quando a gente passa a tocar músicas inteligíveis, e bem. Só que isso demora…
Para quem estuda um instrumento, todo dia é um começo, todo dia é um estudo, e todo estudo é dia de implicância mútua, porque as exigências crescem de acordo com o nível técnico e musical do instrumentista, e nunca deixam de existir.
O senso crítico deveria ser mais um sentido do músico, junto com a audição, o tato e a visão, pois é a partir dele que o músico ouve melhor, vê melhor, sente melhor o instrumento e toca melhor…
Gostaria de contar para vocês que estudar contrabaixo às vezes é chato sim, assim como estudar qualquer outro instrumento, mas que também é possível atenuar a chatura de um estudo com pequenas modificações em sua rotina.
Tédio instrumental a longo prazo pode estar associado à baixa-estima, à falta de objetividade do estudo ou à falta de criatividade do músico.

Morri de amores pelo contrabaixo depois de assistir a uma aula, o que prova que amor à primeira vista existe, e como estou com ele até hoje, isso prova que amor à enésima vista também existe.
Não conheço nenhum contrabaixista cego, mas acho que esse amor independe de vista. Para mim, bastou ouvir o som do contrabaixo, porque se eu fosse um pouco mais coerente com meus olhos, não escolheria um instrumento tão maior que eu.
Meu consolo é que o piano e a harpa também são maiores do que quem os toca.
Tá certo que eles não dão o trabalho de carregar todos os dias, mas pior do que carregar contrabaixo todos os dias é montar, desmontar e carregar bateria todos os dias. Contrabaixo pelo menos não precisa montar nem desmontar.
Na realidade, com o passar dos anos o contrabaixo é que vai desmontando a gente…

A gente começa aprendendo a tocar com os dedos e – embora isso possa parecer até óbvio, já que não dá para tocar com o nariz- nas orquestras o ensaio às vezes é tão monótono, que dá vontade de tocar uma nota ou outra com a orelha, e conheço quem faz isso, e bem.
Obviamente, você não precisará acrescentar a orelha ao seu estudo diário – somente a prima audição, uma provável analfabeta musical – mas, certamente, você começará a estudar contrabaixo sem aquela varetinha chamada arco: as primeiras aulas e os primeiros sons são feitos só com os dedos.
Bem, todo aprendizado de contrabaixo tem o tal do pizzicato, que mais parece nome de molho. Huumm, macarronada com molho de pizzicato! Pizzicato – azeitonas, azeitonas – notas musicais, música – fome… A vida é cheia de analogias e interpretações…
Pois é, mas o tal do pizzicato nada mais é do que tocar beliscando a corda com os dedos, e você ainda vai ter que encarar o estudo do tal do pizzicato sonhando com o tal do macarrão… Em compensação, ao fim do estudo (e troncho de fome) você ainda pode dar uma esnobada e fingir que já está tocando o solo da 1ª Sinfonia de Mahler:
• (Solo da 1ª Sinfonia de Mahler em pizzicato, uma oitava abaixo:
ré corda solta- mi- fá- mi- ré/ ré- mi- fá- mi- ré/
fá- sol- lá/ fá- sol- lá/
lá- si bemol- lá- sol –fá- mi- ré/ lá- si bemol- lá- sol –fá- mi- ré
lá- lá- ré/ lá- lá- ré))
Um dia, você até poderá tocar essa sinfonia na orquestra, mas antes você tocará – e muito- esse trecho nos concursos para orquestra, e como ele é um dos pesadelos dos contrabaixistas, passará a ser seu pesadelo também. Na música, os sonhos são contagiantes e os pesadelos, contagiosos.
O solo do Mahler começa com a orquestra em silêncio e só o tímpano levando o contrabaixista para a forca assim: ré-lá-ré-lá.

Após algumas aulas fazendo um “estágio” só em pizzicato, aí você é apresentado ao arco e seu estudo continua com as malditas e delinqüentes cordas soltas.
O som delas é sempre motivo de curiosidade entre os vizinhos, que não sabem se você tem um boi ou se tem um navio em casa, coisinhas perfeitamente viáveis dentro de um apartamento, ainda mais quando vindas da imaginação criativa dos seus vizinhos.
Encare positivamente as cordas soltas já que, frente aos seus vizinhos, elas farão você se sentir um rico criador de gado ou mesmo um poderoso armador grego, coisas que como contrabaixista você jamais será.
Mas sonhar alto faz bem ao contrabaixista, já que como um rico criador de gado, você chegará, no máximo, a tocar numa feira agropecuária e, com sorte financeira (para esclarecer bem), numa banda sertaneja famosa.
Como um poderoso armador grego, você poderá tocar na banda de um transatlântico, quem sabe com o Roberto Carlos, não é mesmo? Mais isso é só no futuro porque, caindo na real, entre as quatro paredes do seu cafofinho, só dá mesmo para ser capitão do navio Bambalalão… Avante, cordas soltas!
• (Bambalalão com arco: sol- sol- sol- ré- ré- sol- sol- sol- ré- ré- sol- sol- sol- lá dedo1- lá- lá- ré- ré- ré- sol)
Daí, você começa a intercalar corda solta com corda presa. O contrabaixo e você ainda são duas crianças e têm um mundo contrabaixístico pela frente…

Então começam os estudos de graus conjuntos, as famosas escalas, que nada mais são do que uma escada de notas, em que cada uma delas fica num degrau, seguida da sua nota vizinha do andar de cima na subida – de minisaia- e da sua vizinha do andar de baixo na descida – com o rolo de pastel.
O estudo de um instrumento por vezes é tão repetitivo, que de certa feita flagrei um vizinho meu assoviando o início de um concerto de contrabaixo e – não sei como- era exatamente o que eu estava estudando há meses!
Contrabaixo é cultura, mas o contrabaixista é sempre um ser carente de reconhecimento.
Ao contrário dos pianistas, sempre idolatrados e quase sempre exibidos, os contrabaixistas costumam se esconder atrás do instrumento. Só saem de lá para comer e beber, e justamente na hora em que o estudo começa a ficar um saco, como qualquer ser humano normal faz. Bem-vindos ao clube!
A falta de estímulo para ser contrabaixista ou músico às vezes bate, daí a gente pensa: vou fazer o quê? Improvise uma solução, mas não desista da música!

Mas tem dia que você está lá, p. da vida, quase atirando o contrabaixo pela janela, quando de repente se dá conta de que uma cidade sem grades quase não existe, e que isso seria inútil.
Aí, você resolve parar de estudar, largar tudo e botar o contrabaixo na parede.
Uma das grandes vantagens de tocar contrabaixo é que, ao invés de você ficar de castigo porque não quer estudar, quem fica de cara para a parede é ele, enquanto você vai passear!
Depois que você coloca o contrabaixo de castigo na parede, a porta do armário está aberta com aquele espelhão todo, aí você passa e olha, repassa e re-olha, trepassa, treolha e, corroído de remorsos, sente saudades até das cordas soltas.
Além do pizzicato, das cordas soltas e das cordas presas, das escalas, tem também as notas ligadas e separadas, com as chamadas arcadas:
• (sol –lá – si – ré –ré – si- dó)
A partir daí você pode voar nas notas e tocar até a Asa Branca.
Ou estudar os “saltos”:
• (sol – si – sol – dó – sol – ré)
E andar a cavalo com os saltos no Ponteio Acutilado ou num galope.
Aí, ao invés de você mandar o contrabaixo passear sozinho, vocês viajam juntos.
Depois tem o estudo dos intervalos, que são as distâncias entre as notas: terças, quartas, quintas, etc. Sem feira, sem sábado e sem domingo, por favor.
• (mi – ré – dó –mi- ré – dó – mi)
E você descobre que os intervalos grandes ou pequenos, quando feitos com o ouvido e o coração, perdem o tamanho e ganham dimensão e alma…
E que deles pode soar até um Carinhoso…
Ainda têm estudos em duas cordas, em três, nas quatro, que até parecem joguinhos de coordenação motora.
• (ré – sol – si – ré – sol – si)
E descobrir que um simples joguinho pode terminar no Brasileirinho, um diminutivo que é grande em qualquer instrumento!…
Uma solução para dar um colorido extra aos estudos de vocês é chamar os seus colegas para tocar junto.

Daí o namoro crônico com o contrabaixo evolui para o casamento, e unidos na riqueza de notas musicais e na pobreza de notas materiais, na alegria das apresentações e na tristeza dos estudos, você se dá conta de que o segredo da música bem estudada é uma alquimia individual de persistência, criatividade e talento para descobrir coisas novas.
Todas essas agruras contrabaixísticas são solucionáveis e normais, até porque anormal mesmo foi você resolver tocar contrabaixo acústico. Um famoso violoncelista brasileiro dizia que “tocar bem é tornar natural aquilo que é completamente antinatural.”.
E, como vocês sabem, para todos os males tem frase de mãe. A da minha mãe é assim: “Dê tempo ao tempo para ele ter tempo de ter tempo!”.
E um bom estudo para todos nós!

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A estante e os seus dois contrabaixistas formam um triângulo entre si.
Os contrabaixistas formam um triângulo com o maestro, e esses triângulos “preenchem” o semicírculo da montagem da orquestra no palco, como se tudo isso fosse um grande leque aberto, em que o maestro fica na parte de baixo, na metade da linha reta, para onde convergem todos os “triângulos“ da orquestra.
Se a orquestra tocar sem maestro, proceda a divisão da estante como se houvesse um.
Detalhe: dividir a estante e se posicionar tendo um maestro como referência visual preservará os seus olhos e a sua coluna dos problemas causados com uma má divisão da estante, mesmo que você não vá olhar para o bonitinho sempre.
Agora, olhar para o maestro como referência musical nem sempre preservará você e a orquestra de resultados musicais medíocres e/ ou constrangedores.
Portanto, olho vivo no maestro de vez em quando e ouvido vivo na música sempre…

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Para dividir uma estante entre dois contrabaixistas é importante lembrar que as orquestras são montadas em forma de U de cabeça para baixo, visto da plateia para o palco.
O naipe de contrabaixos pode se posicionar no palco de duas formas: em “meia-lua” ou em “fila”. Na “meia-lua”, uma estante de contrabaixo é posicionada do lado da outra, em semicírculo. Na “fila”, uma ou mais estantes são posicionadas atrás de uma ou mais estantes.
Quando o naipe de contrabaixo está em “meia-lua”, é importante acompanhar esse modelito também no posicionamento de sentar dos contrabaixistas, ou seja, numa mesma estante, um contrabaixista vai se sentar ligeiramente mais à frente ou mais atrás do outro contrabaixista.
Na estante seguinte, o contrabaixista da esquerda se alinha com o contrabaixista da direita da estante anterior, mas o imprescindível é que todos os contrabaixistas do naipe enxerguem bem o chefe de naipe e o maestro.
A partir do momento que um contrabaixista se senta mais à frente ou mais atrás que o colega da estante, para manter a curvatura do naipe é importante deixar a estante também inclinada, ou seja, a parte em que se lê fica paralela à linha reta imaginária traçada entre os dois contrabaixistas, lado a lado.
Para dividir melhor a estante entre os dois, sem que um fique mais prejudicado que o outro, é só mirar com a ponta do arco a cabeça do maestro (ou para o centro do palco).
A distância entre o talão do arco e a lateral da estante de cada contrabaixista tem que estar igual. Assim, a estante não ficará mais para a direita ou mais para a esquerda.
Quando o naipe está em “fila”, um contrabaixista também se sentará ligeiramente mais à frente ou mais atrás do colega de estante, devido à montagem da orquestra no palco, que é em forma de u de cabeça para baixo (ou de um leque aberto).
Seja em “meia-lua” ou em “fila”, tanto a angulação da estante quanto a disposição dos bancos de contrabaixo têm que ficar cômodas para os dois contrabaixistas, porque eles sempre precisarão ler a partitura e olhar para o maestro sem mexer a cabeça e com pouco movimento dos olhos.
O movimento dos olhos só será maior quando o contrabaixista estiver lendo a página oposta ao seu lugar.
Para atenuar o desconforto de dividir uma estante com outro colega, é necessário também regular a altura da estante, de forma que não seja necessário ficar deslocando os olhos da partitura para o maestro nas primeiras linhas, já que isso acontecerá naturalmente a partir da metade para baixo da partitura.
Mesmo assim, uma ida ao oftalmologista de ano em ano é recomendável e, é claro, a prática de exercícios físicos regulares, nem que eles sejam para desestressar…

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